Desenho feito por um jovem judeu num campo de concentração. “Tocar a cerca significava morte imediata, ainda assim, as
pessoas compartilhavam pão, um sorriso… uma lágrima”, Alfred Kantor, 17 anos.
"Sexta-feira, 9 de outubro de 1942.
Hoje só tenho notícias tristes e deprimentes para lhe contar. Nossos amigos judeus estão sendo levados embora às dúzias. Essa gente está sendo tratada pela Gestapo sem um mínimo de decência. São amontoados em vagões de gado e enviados para Westerbork, o grande campo de concentração para judeus, em Drente. Westerbork parece ser terrível: um único lavatório para centenas de pessoas e muito poucas privadas. Não há acomodações separadas para homens e mulheres e todos têm de dormir juntos. [...]
Fugir é impossível; os internados ficam marcados pela sua cabeça raspada ou pela sua aparência judia.
Se é tão ruim na Holanda, imagine o que não será nas regiões bárbaras e distantes para onde são enviados. Sabemos que a maioria é assassinada. A rádio inglesa fala de morte na câmara de gás.
[...] Boa gente, os alemães! E pensar que eu já fui alemã! Não, Hitler tirou a nossa nacionalidade há muito tempo. Na verdade, alemães e judeus são os maiores inimigos do mundo.
Quarta-feira, 3 de maio de 1944.
Judeu na janela, Felix Nussbaum
[...] Você bem pode imaginar que não são poucas as vezes que nos perguntamos, desesperados: 'De que adianta esta guerra? Por que não se pode viver em comum e em paz? Para que esta destruição?'
A pergunta é compreensível, mas ainda não encontramos resposta que satisfaça. Sim, para que fabricar aviões cada vez mais gigantescos, bombas ainda mais poderosas e, ao mesmo tempo, casas pré-fabricadas, para reconstrução? Por que gastar milhões diariamente, na guerra, enquanto ninguém dispõe de um centavo para serviços médicos, para auxiliar artistas e gente pobre?
[...] Não acredito que somente os grandes, os políticos e os capitalistas sejam responsáveis pela guerra. Oh, não! O homem comum é tão culpado quanto eles, senão os povos do mundo já se teriam insurgido, revoltados.
Sábado, 15 de julho de 1944.
Jovem judeu na rua, Felix Nussbaum
[...] É muito mais duro para nós, jovens, manter a firmeza e as opiniões em tempos como estes, em que os ideais são destruídos e despedaçados, as pessoas, põem à mostra seu lado pior e ninguém sabe mais se deve crer na verdade, no direito e em Deus. [...] Esta é a maior dificuldade destes tempos: surgem dentro de nós ideais, sonhos e esperanças, só para encontrarem a horrível verdade e serem despedaçados.
Realmente, é de admirar que eu não tenha desistido de todos os meus ideais, tão absurdos e impossíveis eles são de se realizar. Conservo-os, no entanto, porque apesar de tudo ainda acredito que as pessoas, no fundo, são realmente boas. Simplesmente não posso construir minhas esperanças sobre alicerces formados na confusão, miséria e morte. Vejo o mundo transformar-se gradualmente em uma selva. Sinto que estamos cada vez mais próximos da destruição. Sofro com o sofrimento de milhões e, no entanto, se levanto os olhos aos céus sei que tudo acabará bem, toda esta crueldade desaparecerá, voltando a paz e a tranquilidade.
Enquanto isso, é necessário que mantenha firme meus ideais, pois talvez chegue o dia em que os possa realizar.
Sua Anne."
FRANK, Anne. O diário de Anne Frank. Rio de Janeiro: Record, s.d. p. 43-4, 187, 217-8.
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