Vila de iglus, ca. 1865. Artista desconhecido
Entre o Império Russo e a América
Setentrional, ao redor da bacia polar boreal, as explorações e o comércio
quebraram o isolamento dos hiperbóreos, dos Randvoelker
de Ratzel. Existem os que, pastores antes de tudo, tiram da rena o leite, a
carne, a pele e aos quais a proximidade da floresta do Norte proporciona alguns
recursos suplementares: a este tipo
pertencem os Paleasiatas, os Ostíacos, os Samoiedos, os Tunguzes, bem como os
Atabascos da América. A maior parte, entretanto, pratica concomitantemente a
criação da rena e a exploração dos recursos marítimos. O mais típico destes
povos é o dos esquimós, cujo domínio se estende desde a Groenlândia até o
Labrador: seu nomadismo ajustado ao ritmo das estações permite-lhes caçar o
caribu, os animais fornecedores de peles e a fauna dos estreitos; manejam com
habilidade o arpão, utilizam o trenó puxado por cães e o caiaque. Untam o corpo
e fartam-se de comer; vivem enterrados no iglu temporário, feito de blocos de
neve, durante o longo e tremendo inverno destas latitudes.
O estrangeiro veio atraído pelos
animais que podem fornecer peles, gordura, óleo, couro, partes córneas e
marfim. Leva às populações a arma de fogo, os utensílios metálicos, o petróleo
que facilita o cozimento e a iluminação, a farinha, o açúcar e o chá, tornando
a alimentação mais variada e mais agradável, e também o álcool e as doenças.
Caça selvagemente, extermina certas espécies e perturba os gêneros de vida.
Assim, no Labrador, os esquimós negligenciam a caça à foca, dão preferência ao
caribu e à raposa polar, toma gosto pelos novos alimentos mas são dizimados
pela varíola, pela tuberculose e pela sífilis; desaparecem do Alasca
setentrional. As autoridades canadenses e norte-americanas, então, introduzem
no Grande Norte a rena siberiana, que logo prolifera, consideram a
possibilidade da criação do caribu e do almiscareiro no arquipélago polar; a
Dinamarca chega mesmo a isolar a Groenlândia, para garantir a proteção do grupo
mestiço de esquimós e escandinavos.
SCHNERB, Robert. O século XIX: as civilizações não-europeias;
o limiar do século XX. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. p. 19-20.
(História geral das civilizações, v. 14)
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