"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Os regimes totalitários: ataque à razão e à liberdade

Guerra, Lasar Segall

A GUERRA

Um avião que surge de repente
Carregado de mísseis assassinos
As cidades em chamas ardendo

Matando meninas e meninos.

Fogem os sobreviventes
Sobre os corpos caídos por terra
Fogem do horror da guerra.

Não há tempo para velórios
Outra bomba os enterra
Mutilados em seu próprio solo
As pobres vítimas da guerra.

A GUERRA É ESTÚPIDA E INÚTIL
Massacra quem não faz guerra
É o poder e a ganância fútil
Pela terra que nos enterra.

Se eu pudesse...
Eu mataria a guerra.

Roseli Passos, poetisa e artista plástica. In: http://roselipassospoemas.blogspot.com.br/


Detalhe do triângulo rosa usado para identificar os homossexuais na Alemanha nazista. 
[Milhões de judeus, ciganos, eslavos, homossexuais, testemunhas de Jeová, liberais, democratas, socialistas, artistas, intelectuais... foram barbaramente aprisionados e executados pelos nazi-fascistas nos campos de concentração espalhados pela Europa dominada pela barbárie.]

Auschwitz

"Demoraria muitos anos para que toda a história do custo moral da guerra aparecesse, mas um sinal vivo - e do que fora conquistado - se tornou imediatamente visível e aterrorizador quando os exércitos aliados avançaram na Alemanha e na Europa Central. Descobriram-se invadindo campos onde a brutalidade sádica e a negligência desumana foram muito além do que alguém algum dia concebera. Os prisioneiros ali durante anos sofreram tortura, fome e trabalho forçado. Passaram por isso às vezes por serem opositores políticos ao nazismo, às vezes porque eram reféns ou trabalhadores escravos, às vezes simplesmente como prisioneiros de guerra. Mas isto não era o pior. A maioria dos que sofreram eram judeus, condenados a um tratamento desumano e à morte simplesmente por sua raça. Os nazistas fizeram esforços especiais para eliminar os que eles supunham ser geneticamente indesejáveis. [...] cinco ou talvez seis milhões de judeus pereceram nas câmaras de gás dos campos de extermínio ou em fábricas e pedreiras onde morreram de exaustão e fome, ou no campo, onde eram cercados e fuzilados por destacamentos especiais de extermínio. Derrubar o sistema que fez isto acontecer foi uma conquista grande e nobre, uma vitória da civilização e da decência. [...] O único guerreiro ideológico da luta do início ao fim fora Hitler, e os objetivos que buscara  eram moralmente abomináveis." [J. M. Roberts. O livro de ouro da História do Mundo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. p. 727-728]


* A Europa depois da guerra. A Primeira Guerra deixou um rastro de desilusão entre as populações. Alguns valores de referência no mundo ocidental ficaram, ao seu final, profundamente abalados. Para muitos, a Europa esteve, durante o conflito, muito mais próxima de um barbarismo perverso do que dos valores propagados por sociedades civilizadas. À desilusão na capacidade humana de resolver problemas de modo racional somavam-se as dificuldades materiais. As instituições liberais sofreram fortes abalos. A reconstrução social, em seus aspectos espirituais e materiais, precisou de tempo para se realizar. A violência, experimentada nos campos de batalha e instigada pelas propagandas oficiais, colocando uma nação contra outra, tornou-se um componente habitual da vida dos jovens que voltaram da guerra.


Campo de concentração de Wobbelin. 
"Em sua luta para derrubar o Estado liberal, os líderes fascistas despertaram os impulsos primitivos, ressucitaram velhas fidelidades tribais e usaram mitos e rituais para mobilizar e manipular as massas. Organizando campanhas de propaganda com o rigor de uma operação militar, os fascistas inicitaram e dominaram as massas e confundiram e minaram a oposição democrática, desencorajando sua vontade de resistir." [MARVIN, Perry. Civilização ocidental: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 565-566]

Desesperados pelo difícil retorno, muitos desses jovens aderiram aos movimentos extremistas e nacionalistas, que, em vez de soluções políticas encaminhadas pela ação de instituições liberais, propunham um salvacionismo baseado na ação e no terror.

A crise iniciada nos Estados Unidos em 1929 com a queda da Bolsa de Nova Iorque estimulou ainda mais a tensão social e a adesão a movimentos radicais na Europa.

* O totalitarismo. No âmbito político, a crise do capitalismo foi acompanhada pelo enfraquecimento do Estado liberal. Os ideais democráticos burgueses passaram a ser questionados, as liberdades e os direitos individuais caíram em descrédito, e a livre manifestação do pensamento deu lugar à censura e à repressão.


Campo de concentração de Buchenwald. 
"Os instrumentos da moderna tecnologia - rádio, filmes cinematográficos, discursos públicos, telefone e teletipo - possibilitaram ao Estado doutrinar, manipular e dominar seus súditos numa escala até então inimaginável." [MARVIN, Perry. Civilização ocidental: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 566]

Essa inversão de valores caracterizou o totalitarismo, fenômeno bastante complexo e que ganhou matizes próprios em cada país. De modo geral, no entanto, as práticas totalitárias tiveram traços comuns em todos os lugares onde foram implantadas.

O pluripartidarismo foi substituído pelo sistema de partido único, e os órgãos legislativos, quando existiam, eram totalmente subjugados pelo poder Executivo. Os mecanismos de coerção ganharam enorme importância - o que equivale a dizer que a violência se tornou prática institucionalizada -, e a propaganda nacionalista intensiva foi o grande instrumento de mobilização das massas.


Prisioneiros do campo de Mauthausen, Áustria. 
"Universidades, escolas, restaurantes, farmácias, hospitais, teatros, museus e campos de atletismo foram gradualmente fechados aos judeus." [MARVIN, Perry. Civilização ocidental: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 581]

Nos regimes totalitários, a ação do Estado se deu sempre no sentido de anular a dimensão individual dos cidadãos e de procurar integrá-los em um corpo comum - a nação. Os conflitos de caráter ideológico locais, ou entre as classes, tendiam a ser totalmente diluídos por meio da pregação de um líder político carismático, que, a pretexto de conduzir a nação para o seu destino, exacerbava o sentimento nacionalista, estimulando o belicismo e, consequentemente, o confronto armado entre países.


Forno crematório do campo de Buchewald.
"Com a guerra, o genocídio tomou dimensões catastróficas. Na Alemanha e nos países ocupados, os campos de concentração, administrados pela SS, foram implementados, visando à escravização e ao extermínio daqueles que, aos olhos dos nazistas, deveriam ser eliminados do corpo social. Fábricas instaladas nas imediações das cidades exploravam o trabalho dos que ainda tinham vigor. Experimentos médicos de congelamento e a aplicação de vírus e bactérias eram realizados nos prisioneiros." [MORENO, Jean; VIEIRA, Sandro. História: cultura e sociedade. O contemporâneo: mundo das rupturas. Curitiba: Positivo, 2010. p. 196]

Sobrevivente de Auschwitz.  
"Desde a chegada, por meio de violência e ameaças, visava-se despojar todos de sua identidade. Os maus-tratos, o desnudamento total, a raspagem dos cabelos, os uniformes listrados e o número impresso na pele indicavam a tentativa de criação de uma subumanidade. Os prisioneiros recebiam identificações diferenciadas para se evitarem laços de solidariedade entre os grupos. A violência física e moral e a destruição cientificamente organizada faziam parte do cotidiano do sistema concentracionário nazista". [MORENO, Jean; VIEIRA, Sandro. História: cultura e sociedade. O contemporâneo: mundo das rupturas. Curitiba: Positivo, 2010. p. 196]

Esses regimes tiveram sucesso sobretudo em países onde a crise econômica, o atraso tecnológico e as tensões sociais eram particularmente graves. Sustentados e financiados pelos setores economicamente poderosos, contaram também com a importante colaboração dos setores empobrecidos, que buscavam uma saída para sua difícil situação.

MARVIN, Perry. Civilização ocidental: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
MORENO, Jean; VIEIRA, Sandro. História: cultura e sociedade. O contemporâneo: mundo das rupturas. Curitiba: Positivo, 2010.
REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da história: história geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2005.
ROBERTS, J. M. O livro de ouro da História do Mundo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

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