sou o Povo da Terra,
da Terra-sem-males,
o Povo dos Andes,
o Povo das Selvas,
o Povo dos Pampas,
o Povo do Mar...
Eu tinha uma cultura de milênios,
antiga como o sol,
como os montes e rios
[...]
Eu plantava o milho e a mandioca.
Eu cantava com a língua das flautas.
Eu dançava, vestido de luar,
enfeitado de pássaros e palmas.
Eu era a cultura em harmonia
com a Mãe Natureza.
[...]
Eu respeitava a Natureza
[...]
Eu vivia na pura nudez,
brincando, plantando, amando,
gerando, nascendo, crescendo,
na pura nudez da vida.
[...]
Eu vos dei
o milho da espiga apertada e repartida,
o bulbo generoso da mandioca,
[...]
o guaraná cheiroso da floresta,
o caldo assossegante do chimarrão do Sul.
[...]
A canoa, voadora nas águas.
[...]
Eu vivia embriagado na alegria
A aldeia era uma roda de amizade.
Meus chefes comandavam,
servidores do Povo,
com a sabedoria e o respeito
[...]
Eu era toda América,
eu sou ainda América,
eu sou a nova América!
Caravelas do Lucro,
viemos navegando,
para vender a Terra
para explorar lucrando.
E nós de destruímos
cheios de prepotência,
negando a identidade
dos Povos diferentes,
todos Família Humana.
E nós te violamos
ao fio das espadas,
no fogo do arcabuz
queimamos teu sossego.
E nós te escravizamos.
E nós te sepultamos
nas fendas dos garimpos.
[...]
E nós te revestimos
com roupas de malícia.
Violamos tuas filhas.
Te demos por Moral
a nossa Hipocrisia.
E nós te missionamos
infiéis ao Evangelho,
cravamos em tua vida
a espada de uma Cruz.
Sinos de Boa Nova
num dobre de finados!
[...]
E nós te depredamos,
desnudando as florestas,
calcinando teus campos,
semeando veneno
nos rios e no ar,
a Terra generosa
separando por cercas,
os homens contra os homens:
para engordar o gado
da fome nacional,
para plantar a soja
da exploração escrava.
[...]
E nós abrimos estradas,
estradas da mentira,
estradas da miséria,
estradas sem saída.
E fizemos do Lucro
o caminho fechado
para o povo da Terra.
[...]
E nós te mergulhamos
nos vírus, nos bacilos,
nas pestes importadas.
[...]
[...]
Tenho o coração lavrado
pelo fogo dos bandeirantes,
dos bugreiros,
dos caçadores de escravos.
Sou a boca aberta de milhões,
o grito de homens sem armas,
a ferida aberta na carne
da História.
[...]
Caravelas do Lucro,
viemos navegando,
para vender a Terra
para explorar lucrando.
E nós de destruímos
cheios de prepotência,
negando a identidade
dos Povos diferentes,
todos Família Humana.
E nós te violamos
ao fio das espadas,
no fogo do arcabuz
queimamos teu sossego.
E nós te escravizamos.
E nós te sepultamos
nas fendas dos garimpos.
[...]
E nós te revestimos
com roupas de malícia.
Violamos tuas filhas.
Te demos por Moral
a nossa Hipocrisia.
E nós te missionamos
infiéis ao Evangelho,
cravamos em tua vida
a espada de uma Cruz.
Sinos de Boa Nova
num dobre de finados!
[...]
E nós te depredamos,
desnudando as florestas,
calcinando teus campos,
semeando veneno
nos rios e no ar,
a Terra generosa
separando por cercas,
os homens contra os homens:
para engordar o gado
da fome nacional,
para plantar a soja
da exploração escrava.
[...]
E nós abrimos estradas,
estradas da mentira,
estradas da miséria,
estradas sem saída.
E fizemos do Lucro
o caminho fechado
para o povo da Terra.
[...]
E nós te mergulhamos
nos vírus, nos bacilos,
nas pestes importadas.
[...]
Um pueblo indígena, Thomas Moran
[...]
Tenho o coração lavrado
pelo fogo dos bandeirantes,
dos bugreiros,
dos caçadores de escravos.
Sou a boca aberta de milhões,
o grito de homens sem armas,
a ferida aberta na carne
da História.
[...]
CASALDÁLIGA, Pedro; TIERRA, Pedro. Ameríndia, morte e vida. Petrópolis: Vozes, 2000.
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