Toalete de uma dama romana.
Juan Giménez Martín
O termo civilização surgiu na França do século XVIII, mas a ideia ocidental de sociedade civilizada vem da Grécia e Roma antigas. Durante o período clássico, os gregos começaram a se ver como não apenas diferentes, mas superiores a todos os outros povos. Quando, no século V a.C., Heródoto se referia aos "bárbaros", esse era apenas um termo genérico para designar os não gregos. Na época de Aristóteles, cerca de um século depois, os bárbaros e as nações bárbaras já eram definidos por atitudes - o modo de tratar os escravos, a economia baseada no escambo - vistas com reserva pelos gregos civilizados. Os costumes e as práticas culturais tornavam os bárbaros inferiores aos gregos, vistos por si mesmos e, mais tarde, pelos europeus como sinônimos de civilização.
Civilização deriva de civis, palavra latina que significa cidadão. Embora os romanos usassem, em lugar de civilização, a palavra cultura para descrever a sua vida espiritual, intelectual, social e artística, ser cidadão era participar dessa cultura. Tal como os gregos que, sob uma série de aspectos, tomaram como modelo, os romanos se consideravam singularmente cultos. Os conceitos de cultura e civilização se tornaram, pois, retrospectivamente sinônimos. Cercados por bárbaros, os romanos também se viram impelidos a levar aos outros a civilização. Como escreveu Virgílio: "Romanos, é vosso dever governar imperialmente as nações (...) impor o império da paz, poupar os humildes e esmagar os orgulhosos."
A definição de civilização foi recuperada no Ocidente pelos eruditos cristãos dos séculos VII e VIII, como Gregório de Tours e Bede, cujas narrativas dos séculos precedentes mostram o cristianismo seriamente ameaçado antes de triunfar, finalmente, sobre os pagãos. A organização da Igreja, sua cultura e sua aliança com Carlos Magno e quejandos propiciaram que a cristandade latina se tornasse um equivalente assumido da civilização ocidental.
O redespertar do interesse pelo mundo clássico antes e durante a Renascença reacendeu a ideia de uma civilização caracteristicamente europeia com existência anterior e paralela ao cristianismo. Os europeus ocidentais outorgaram a si próprios uma tradição nobre ao adotar a ancestralidade cultural de Sófocles, Platão, Virgílio e Sêneca, além de São Pedro e São Paulo. A descoberta de um Novo Mundo do outro lado do Atlântico e de uma miríade de povos aparentemente primitivos em todas as partes do mundo incentivou os europeus do século XVI a se identificarem ainda mais fortemente com os antigos gregos e romanos - povos civilizados cercados de bárbaros. (Continua no próximo post)
OSBORNE, Roger. Civilização: uma nova história do mundo ocidental. Rio de Janeiro: Difel, 2016. p. 13-4.
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