Flora Tristán, Artista desconhecido
A tela, nua, imensa, se oferece e desafia. Paul Gauguin pinta, persegue, deita cores como quem se despede do mundo; e a mão, desesperada, escreve: De onde viemos, o que somos, aonde vamos?
Faz mais de meio século que a avó de Gauguin perguntou a mesma coisa, em um de seus livros, e morreu averiguando. A família peruana de Flora Tristán não a mencionava nunca, como se desse azar ou fosse louca ou fantasma. Quando Paul perguntava pela avó, nos distantes anos da infância em Lima, lhe respondiam:
- Vai dormir, que é tarde.
Flora Tristán tinha queimado sua vida fugaz pregando a revolução, a revolução proletária e a revolução da mulher escravizada pelo pai, o patrão e o marido. A doença e a polícia acabaram com ela. Morreu na França. Os trabalhadores de Bordéus pagaram o caixão dela, e o levaram para o cemitério em procissão.
GALEANO, Eduardo. Memória do Fogo: As caras e as máscaras. Porto Alegre: L&PM, 2013. p. 522.
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