Os primeiros operários brasileiros surgiram ainda em plena sociedade escravista. Muitas de nossas primeiras empresas industriais caracterizavam-se pelo trabalho conjunto de operários livres e escravos. Somente com a abolição tal quadro mudaria. Até lá, porém, essa coexistência atrapalharia muito a afirmação do operariado como classe entre nós.
Esses primeiros operários originavam-se das camadas mais pobres da população urbana, sendo muitos deles menores, retirados de asilos ou casas de caridade, diretamente para o regime das fábricas. As condições de trabalho e de vida desses aprendizes não eram melhores do que as de muitos escravos, formando um contingente significativo de trabalhadores não-especializados. Adultos e crianças chegavam a trabalhar até dezesseis horas por dia, sem folga semanal ou qualquer outro direito.
Operários diante da fábrica, São
Paulo, pousando para a fotografia coletiva, fins do século XIX
Já os operários qualificados, necessários ao desenvolvimento industrial, eram contratados quase sempre na Inglaterra e sofriam muitas dificuldades de adaptação ao clima do país, além de saírem bem mais caro para os primeiros industriais, que eram obrigados a pagar-lhes salários maiores do que os que estavam acostumados a pagar.
A entrada em massa de imigrantes no Brasil, a partir de 1870/1880, começou a alterar a composição do operariado brasileiro. Os estrangeiros - italianos, portugueses, espanhóis - aos poucos tornaram-se maioria nas fábricas do Rio e de São Paulo, situação que se manteve mesmo após a abolição. Somente nos centros industriais menos dinâmicos, como aqueles situados na Bahia, Pernambuco ou Pará, predominou o emprego da mão-de-obra nacional na indústria.
O crescimento da grande indústria, verificado na virada do século XIX para o XX, pouco contribuiu para melhorar as condições de vida dos operários. A superexploração do trabalho industrial não só se manteria, como seria agravada, em função de um novo fato: a incorporação maciça de mulheres e crianças ao trabalho fabril. É bom lembrar que esses últimos recebiam salários ainda menores do que os trabalhadores adultos.
Outro fator que favorecia a superexploração era a ameaça do desemprego ou da diminuição temporária de frentes de trabalho. Com a chegada de novos imigrantes às cidades, a oferta de mão-de-obra aumentava, provocando demissões e desvalorização dos salários.
Saudades de Nápoles, Bertha Worms
[A obra retrata um
menino italiano engraxate, figura bastante comum nas ruas de São Paulo na época]
MENDONÇA, Sônia. A industrialização brasileira. São Paulo: Moderna, 1996. p. 20-22. (Coleção Polêmica)
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