Revolução Neolítica: uma nova relação homem-natureza
Texto 1
"Durante todas as prolongadas Épocas Glaciárias, o homem não realizara nenhuma modificação fundamental em sua atitude para com a natureza exterior. Limitava-se a colher o que lhe era possível conseguir, embora tivesse aperfeiçoado muito os métodos de coleta e aprendido a selecionar o que colhia.
Pouco depois do término das Épocas Glaciárias, a atitude do homem (ou melhor, de umas poucas comunidades) em relação ao ambiente sofria uma transformação radical, com consequências revolucionárias para a totalidade da espécie. (...) O homem começou a controlar a natureza, ou pelo menos conseguiu controlá-la cooperando com ela.
Os passos pelos quais esse controle se efetivou foram gradativos, e seus efeitos, cumulativos. Mas entre eles podemos distinguir alguns que se destacam como revoluções. A primeira revolução que transformou a economia humana deu ao homem o controle sobre o abastecimento de sua alimentação. O homem começou a plantar, cultivar e aperfeiçoar, pela seleção, as ervas, raízes e árvores comestíveis. E conseguiu domesticar e colocar sob sua dependência certas espécies de animais, em troca de alimento, de proteção que podia oferecer. (...)
Como revolução, a adoção de uma economia produtora de alimentos influiu na vida de todos os interessados, refletindo-se na curva populacional. É claro que não existem 'estatísticas vitais' para provar que esse possível aumento de população tenha ocorrido realmente. Mas é fácil ver que assim foi. A comunidade dos coletores de alimentos havia sido limitada, no tamanho, pelo abastecimento de alimento existente - pelo número de animais de caça, do peixe, das raízes comestíveis e das frutas que cresciam em seu território.
Nenhum esforço humano podia aumentar esse suprimento, qualquer que fosse a opinião dos mágicos. Na verdade, os melhoramentos na técnica ou intensificação da caça e coleta, além de um determinado ponto, resultam no extermínio progressivo da caça e numa diminuição absoluta do suprimento. E, na prática, as populações caçadoras parecem ajustar-se perfeitamente aos recursos de que dispunham. O cultivo do alimento derruba imediatamente os limites até então impostos. Para aumentar o abastecimento, basta semear mais e colocar mais terra em uso. Se houver mais bocas a alimentar, haverá também maior número de mãos para cuidar dos campos." CHILDE, Gordon. A Evolução Cultural do Homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1966. p. 77-80.
Texto 2
"Quando, ainda na Pré-história, o homem trocou a vida nômade pela vida em pequenas aldeias, aprendeu a acolher e domesticar pequenos animais, iniciando-se na vida pastoril. Dispunha, então, de carne, leite, tirava manteiga, coalhava o leite, fazia queijo, fiava a lã, tecia agasalhos. (...)
Com o desenvolvimento da inteligência, o Homo faber passou ao artesanato e descobriu como guardar e conservar os alimentos. Da pedra polida fez instrumentos de caça e objetos domésticos, moldou o barro e endureceu-o na brasa, fazendo tijolos, figuras de divindades e vasilhames. (...)
Entre duas pedras moeu o grão, fez a farinha, amassou o pão e assou-o no forno. Fermentou a cevada e fez a cerveja. (...) Com os progressos dessa chamada Revolução Neolítica fundiu o bronze, o cobre, o ouro. O crescimento demográfico obrigou o Homo economicus a descobrir novas técnicas de produzir e conservar alimentos." ORNELLAS, Lieselotte Hoeschtl. A alimentação através dos tempos. Florianópolis: Editora da UFSC, 2003.
Texto 3
"Continuamos ainda a ignorar quando e como é que os rebanhos deixaram de ser propriedade comum da tribo e passaram a pertencer aos diferentes chefes de família. Com o aparecimento dos rebanhos e outras riquezas novas, aconteceu uma revolução na família.
Os rebanhos eram uma nova fonte de alimentos e utilidades. A sua domesticação e a sua criação competiam ao homem. Por isso o gado lhe pertencia, assim como as mercadorias que obtinha em troca dele. Todo excedente, isto é, o que era produzido além do necessário à subsistência, pertencia ao homem. A mulher participava no consumo, mas não na propriedade.
O 'selvagem' - guerreiro e caçador - tinha se conformado com o segundo lugar que ocupara. O pastor, envaidecido com a riqueza, tomou o primeiro lugar, relegando a mulher para o segundo plano. O trabalho doméstico da mulher perdia agora a sua importância, comparado com o trabalho produtivo do homem. Esse trabalho passou a ser tudo; aquele (o da mulher), uma insignificante contribuição." ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. São Paulo: Global, 1984. p. 217-218. Adaptado.
Texto 4
"As civilizações históricas do Oriente Próximo se centralizaram sobre os grandes rios: Eufrates e Tigre, Nilo e, um pouco mais tarde, o Indo. Mas a arqueologia, apoiada pela verificação do carbono radioativo, deixa claro que as fases antecedentes, testemunhas da gênese da agricultura, metalurgia, aldeamento urbano e de uma complexa hierarquia social, ocorreram antes em alguma outra parte.
O nascimento da agricultura e as origens da vida fixa no Oriente Próximo ocorreram em algum ponto entre a zona que se estende da Palestina, Síria, norte do Iraque e Irã (...). Enquanto as terras aluviais tinham um clima árido e necessitavam da irrigação para se tornarem férteis, os territórios altos gozavam de uma precipitação que hoje excede a 40 cm por ano, e mesmo nos períodos mais secos devem ter sido relativamente mais favoráveis aos agricultores primitivos.
Além disso, foi precisamente nesses últimos territórios que os protótipos das colheitas e das criações relevantes floresciam, em estado selvagem. Pelo menos, tal ocorreu com o Triticum dicoccoides e o Hordeum spontaneum, pais respectivamente do trigo e da cevada, os dois cereais que dominavam a agricultura dessa zona, ambos encontrados em estado selvagem nessas regiões, ainda hoje. Não há indícios de que nenhum deles existisse no Egito antes de serem ali introduzidos pelo homem (...).
Somente quando o avanço social estava relativamente adiantado é que a ocupação dos territórios aluviais, com a irrigação do solo e importação total de matérias-primas básicas, tornou-se possível pela primeira vez." CLARK, Grahame. A Pré-História. Rio de Janeiro: Zahar, 1962. p. 82-83.
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