Cena de amor. Afresco na Casa del Centenario, Pompéia
Amor é um tema delicado [...], varia tanto de sociedade a
sociedade e de época a época. [...] as mulheres romanas, à diferença das gregas,
não viviam tão apartadas e interagiam mais com os homens. [...] as sociedades
patriarcais como a grega e a romana estavam baseadas no domínio masculino e
alguns estudiosos chegam a afirmar que se trataria de "sociedades do
estupro". Os estudiosos divergem, no entanto, quanto à caracterização das
relações entre homens e mulheres no mundo romano.
Todos concordam que as mulheres romanas tinham relativamente
uma inserção social bastante ampla, participavam de banquetes e reuniões
sociais importantes, à diferença das esposas gregas, tinham direito de
propriedade e podiam ser até mesmo proprietárias de empresas. Embora, por
definição, não pudessem votar ou ser eleitas, as inscrições encontradas na
cidade de Pompéia mostram que as mulheres não se furtavam a apoiar, com
cartazes, seus candidatos aos cargos públicos, o que está a demonstrar sua
influência social. Também graças à Arqueologia, possuímos alguns documentos
escritos por romanas [...]. Entre os documentos epigráficos escritos por
mulheres, há poemas amorosos, tanto de lavra erudita como popular. [...]
[...]
Na literatura latina, as mulheres aparecem de forma
contraditória. Muitos autores foram francamente misóginos, apresentando uma
visão bastante crítica da mulher ainda que, mesmo nesses casos, se possa
entrever a importância social das mulheres. [...]
[...]
Mas nem todos os autores romanos eram misóginos, pelo
contrário. Ovídio [...] escreveu:
Quero ver a mulher de olhos rendidos,
a exausta mulher que desfalece
e que por muito tempo não consente
que lhe toquem no corpo dorido de prazer.
[...] na elite romana, aceitava-se como natural que um homem
mantivesse relações com mulheres e com homens, em especial, o patrão com seus
escravos e escravas. [...]
Cena erótica: dois homens e uma mulher. Termas de Pompéia
Sabemos, por meio de pinturas e grafites parietais, que os
pobres namoravam, frequentavam prostíbulos. E há mesmo indícios de que havia
mulheres de posses que pagavam pelos serviços de prostitutos.
Para os romanos, ricos ou pobres, a sexualidade também era
intimamente ligada à religiosidade e, em particular, ao culto à fertilidade. Em
toda a parte, encontravam-se objetos fálicos, nas paredes das casas, nos
cruzamentos, como pingentes em colares, em anéis. As casas tinham, no telhado,
falos nas extremidades [...]. Até mesmo as campainhas das casas romanas podiam
ser em forma de um ou mais falos, que o visitante tinha de tocar para fazer o
ruído e fazer-se notar. Essa presença generalizada de membros eretos causa, nos
modernos, uma certa surpresa, um estranhamento de que os romanos não tivessem
vergonha de tão explícita referência sexual. Para os romanos, contudo, o falo
era associado à magia da reprodução e, por isso, era considerado um potente
amuleto contra o mau-olhado e o azar. Sua presença nos limites, como no
telhado, nas soleiras e nas campainhas, tinha essa função protetora contra as
más intenções. As próprias relações sexuais, pelo mesmo motivo, eram
consideradas abençoadas e propiciatórias e até mesmo a referência verbal ao ato
sexual tinha essas conotações. Nós herdamos dos romanos a figa - que quer dizer
vagina, em latim popular - como gesto que representa a relação sexual e que,
por isso, traz a sorte. [...]
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto,
2011. p. 103-108. (Repensando a História).
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