Guerreiros celtas, Antoine Glédel
Gauleses? O termo, imposto pela
tradição, não é claro. César, quando da conquista, restringe-o a uma parte dos
habitantes da Gália independente: entre o Sena e o Marne, de um lado, o Garona
e o Ródano de outro. Estes, diz ele, “chamam-se celtas em sua língua e gauleses
na nossa”. O que, aliás, não impedia os romanos de atribuir à palavra “Gália”
uma extensão muito mais considerável [...] E os gregos empregavam o nome de “celtas”
e, mais tarde, na época helenística, também o de “gálatas”, para distinguir
homens que viviam em regiões bem diversas, desde a Península Ibérica até o
coração da Ásia Menor.
[...] A Arqueologia e a lingüística
fornecem dados mais sólidos [...]
[...] A idade do bronze
corresponde mais ou menos, na Europa Ocidental, ao II milênio a.C. [...] As
antigas civilizações dos megálitos (menires, dolmens, aléias cobertas) e das
palafitas (cabanas sobre estacas das aldeias lacustres), não só sobrevivem,
como também ganham terreno. [...] Ao mesmo tempo surgem outras civilizações,
particularmente a dos tumuli, que
sepulta os mortos, com objetos familiares, sob montículos de terra e pedra
[...] Depois, nos fins da idade do bronze e do II milênio a.C., verifica-se a
propagação [...] da civilização Urnenfelder
(“compos de urnas”), que pratica a incineração e constrói cemitérios de tumbas
planas.
Desaparece, assim, durante a
idade do bronze, o isolamento geográfico das civilizações neolíticas. Os
contactos, certamente, multiplicam-se e as crenças misturam-se, ao mesmo tempo
que as técnicas. [...] Quanto à antropologia, embora consiga distinguir os
tipos humanos dominantes, na maioria das vezes isso permite-lhe apenas
comprovar a existência de mestiçagens, aliás, muito antigas.
A situação só começa a clarear um
pouco no princípio do I milênio a.C., com o aparecimento do ferro. Parecem ter
sido as da Alta Áustria as primeiras jazidas exploráveis deste minério. A região,
além disso, estava apta a sofrer, por intermédio da Ilíria, certas influências
provenientes do Mediterrâneo Oriental. Em todo caso, a mais antiga civilização
do ferro recebeu a designação de Hallstatt [...] Constitui-se ela entre 900 e 800 a .C. e estende-se por um
território muito vasto. Com facies diferentes,
dispersa seus tumuli de inumação ou
incineração e seu armamento, cuja peça mais característica é uma espada amolada
e afiada. [...]
Na realidade, nada em seus
progressos, tais como a arqueologia os revela, nos indica que esses fossem
realizados de maneira brutal, por conquistas, chacinas e destruições. [...]
devem ter correspondido a deslocamentos humanos, mas sob a forma de infiltrações
lentas e sucessivas ao longo dos vales fluviais, deixando subsistir os
estabelecimentos anteriores que sofreram apenas absorção progressiva.
O mesmo verificou-se [...] com a
civilização que, a partir do fim do século V a.C., sucedeu à de Hallstatt. Atribu-se-lhe
o nome de La Tène ,
estação suíça situada perto da extremidade setentrional do lago Neuchâtel. Ela
ocupa pouco a pouco o território da civilização precedente, substituindo
imediatamente a espada por um sabre feito para talhar e, mais lentamente, os tumuli por sepulturas subterrâneas. Suas
joias e seu mobiliário são mais ricos, com coral, esmaltes, contribuições
estrangeiras mais numerosas e vindas de mais longe. Evolui, aliás, no sentido
do aperfeiçoamento técnico e do enriquecimento, e o fim de seu terceiro e último
período coincide com o seu desaparecimento, na Gália, em face da civilização
romana implantada pela conquista.
AYMARD, André; AUBOYER, Jeannine.
Roma e seu império. O Ocidente e a
formação da unidade mediterrânica. São Paulo: Difel, 1974. p. 59-61. (História
geral das civilizações, 3)
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