De acordo com a concepção cristã tradicional, o lugar
"normal" de manifestação da sexualidade é o casamento, e a sua função
básica é a reprodução. Em nossa sociedade, até recentemente, sexo com o
objetivo de prazer era visto de modo negativo, até como pecado.
A sociedade greco-romana da Antiguidade era completamente
diferente. Tanto que os primitivos cultos aos deuses e deusas romanos da
fertilidade e do amor incluíam o uso de símbolos fálicos e relações sexuais
entre os cultuadores desses deuses. Se o Estado romano procurou sempre
controlar as manifestações de sexualidade da população, não foi porque ela era
considerada um mal em si, mas porque se achava que o amor e o sexo levavam a
ações apaixonadas e irracionais.
[...] O amor era sagrado, misterioso, impulsivo, além de ser
fonte de vida e de prazer. Mas, exatamente por ser tão poderoso, precisava ser
controlado em nome da ordem e do interesse público.
A sexualidade é natural e instintiva, mas como os seres
humanos são portadores de cultura, ela se manifesta segundo determinadas
regras. A essas regras se acrescenta o controle das leis do Estado. Algumas
manifestações religiosas que expressavam a cultura do povo romano foram
reprimidas pelo Estado. Foi o caso das orgias, como eram chamadas as festas
religiosas ligadas ao culto do deus Baco, nas quais aconteciam grandes
bebedeiras.
Atualmente, na maioria dos países do mundo há uma separação
entre religião e Estado. As pessoas são livres para praticar a religião que
quiserem, e o Estado não obriga ninguém a ter uma religião. Ela é, portanto, um
assunto privado. O casamento, embora tenha caráter sagrado para várias religiões,
para o Estado é um contrato civil: duas pessoas assumem uma série de deveres e
direitos recíprocos.
Na Antiguidade greco-romana não havia essa separação, pois o
próprio Estado tinha um caráter sagrado. Dessa forma, era normal que o Estado
controlasse a religião. A autoridade religiosa máxima em Roma era exercida por
um funcionário público, o Sumo-Pontífice.
Em todas as sociedades o casamento tem uma importância geral
e coletiva. É o casamento que constitui as famílias e cria a responsabilidade
de determinados adultos em relação às crianças. Esses adultos ficam
responsáveis pela educação e socialização das crianças.
Todavia, apesar de ser de interesse público, o casamento é
visto por nós como assunto pessoal, de interesse privado. Conscientemente ninguém
casa para cumprir deveres cívicos, servir a pátria e colaborar com o bem
público. Nós sempre associamos casamento ao amor. Duas pessoas se casam porque
existe um sentimento de amor entre elas.
Nesse aspecto, a sociedade romana antiga também era muito
diferente, pois em Roma se casava mais por dever cívico e interesse político do
que por amor. O desejo, o amor e a afetividade se davam mais fora do casamento
do que dentro dele.
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