Poder: ostentando coroa e cetro, símbolos do poder, o faraó ouvia o relatório transmitido por seus ministros sobre os acontecimentos do Império. Faraó Horemheb. Relevo. Artista desconhecido
* O faraó. O faraó ocupava a posição mais elevada na hierarquia social egípcia. Era considerado um deus, filho de Amon-Rá e encarnação de Hórus. O povo adorava-o em vida, submetendo-se a sua autoridade sem resistência, e cultuava-o após sua morte.
"No Antigo Império apareceu a ideia de que o rei, ou faraó, era o senhor absoluto, logo venerado como um deus. A justiça é "aquilo que o faraó ama", o mal "aquilo que o faraó odeia"; ele possui onisciência divina e portanto não necessita de um código de leis para guiá-lo. Mais tarde, no Novo Império, os faraós seriam representados com a estatura heroica dos grandes guerreiros: aparecem em seus carros como poderosos guerreiros, esmagando os inimigos e corajosamente matando animais em sacrifício. Porém, a realeza egípcia permanecia sagrada e temível. "Ele é um deus a quem devemos a vida, pai e mãe de todos os homens, único e sem igual", escreveu um egípcio, funcionário civil do faraó, por volta de 1500 a.C." ROBERTS, J. M. O livro de ouro da história do mundo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. p. 100.
Diversão: cena de caça. Pintura mural em tumba. Artistas desconhecidos
Além de organizar as atividades econômicas, o faraó comandava o exército e resolvia os casos de justiça de acordo com sua vontade.
Depois da unificação do Alto e do Baixo Egito, o faraó passou a usar uma coroa dupla, que mantinha as cores (branca e vermelha) de cada uma das coroas usadas pelos soberanos dos dois reinos. Além da coroa dupla, que simbolizava a unificação dos dois Egitos sob um só comando, o faraó usava também um cetro, símbolo de seu poder.
O faraó possuía várias esposas, geralmente parentes, mas apenas a primeira mulher com quem havia se casado podia usar o título de rainha.
Cotidiano no palácio: músicos e dançarinas. Pintura mural em tumba. Artistas desconhecidos
"Os faraós e sua família viviam em meio a um tal luxo e conforto, que mesmo hoje, causam admiração. Os palácios eram equipados com móveis de cedro, de ébano, vestidos às vezes de ouro e de marfim; os utensílios de uso diário eram também de qualidade superior, demonstrando a riqueza daqueles que os possuíam, bem como a habilidade e perícia dos artesãos que os fabricavam. A presença de uma legião de servidores - criados, músicos, cantores, dançarinas e copeiros - colaborava ainda mais para tornar confortável a vida diária dos governantes do país. As caçadas e pescarias frequentes, a prática de jogos diversos, contribuíam também para que fosse agradável o dia-a-dia dos "deuses vivos" que governavam o Egito e daqueles que com eles conviviam". FERREIRA, Olavo Leonel. Egito, Terra dos Faraós. São Paulo: Moderna, 1993.
Nobreza: Príncipe Ankhhaf. Busto. Artista desconhecido
* A nobreza. Formada pelos mais importantes funcionários que administravam o Império, a nobreza constituía a alta camada da sociedade egípcia, logo abaixo do faraó. Esses importantes funcionários tanto podiam ser parentes do faraó como pertencer aos comandos do exército. Os nomarcas, que eram os chefes locais da administração, também pertenciam à nobreza.
Os nobres tinham muitos privilégios, como a posse de grandes extensões de terra cedidas pelo faraó. Apesar disso, nos momentos em que o poder real enfraquecia, os nobres transformavam-se em adversários políticos dos faraós.
Mediadores da relação dos homens com os deuses: sacerdotes vestidos com pele de leopardo realizam rituais de purificação. Pintura mural em tumba. Artistas desconhecidos
* Os sacerdotes. Devido à importância da religião na vida do Egito Antigo, os sacerdotes representavam o grupo social de maior prestígio junto à população. Por causa dos conhecimentos que possuíam e da intimidade que diziam ter com os deuses, os sacerdotes exerciam grande poder sobre o povo.
Os sacerdotes possuíam grandes propriedades, que recebiam do faraó. Os que serviam às principais divindades dispunham de riquezas enormes, pois os egípcios costumavam dar presentes valiosos aos deuses que adoravam. [...]
"[...] Eram responsáveis pela administração dos templos e de escolas nas quais os médicos, escribas e outros profissionais obtinham seus conhecimentos". BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. Das origens da humanidade à Reforma Religiosa na Europa. São Paulo: Moderna, 2010. p. 65.
A carreira sacerdotal era hereditária, isto é, passava de pai para filho.
Saber: escriba. Escultura. Artista desconhecido
"Ponha a sua alma nas escritas [...]
Observe como ela se salva através do trabalho!
Veja, não há nada que supere as escritas
São um barco perfeito!...
Farei com que goste de escrever mais do que de sua própria mãe.
Farei com que sua beleza lhe seja mostrada.
É a profissão mais importante do que qualquer outra.
Não existe igual na Terra".
(Relato escrito por um antigo egípcio chamado Khety. In: MAN, John. A história do alfabeto. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. p. 54.)
* Os escribas. Os escribas eram pessoas letradas. Os jovens que iam se tornar escribas recebiam instrução nas escolas do palácio. Depois de um longo aprendizado, eles conseguiam ler e escrever os complicados caracteres da escrita egípcia - os hieróglifos.
Graças à cultura que adquiriram durante os anos de estudo, os escribas ocupavam cargos importantes no governo. Era entre eles que o faraó escolhia, por exemplo, os magistrados e os inspetores dos trabalhos e das rendas públicas.
"[...] A eles cabia estipular os impostos cobrados, em espécie, dos camponeses e artesãos. Assim, estes funcionários estavam praticamente em pé de igualdade com os sacerdotes, que também cursavam escolas anexas aos palácios e templos e exerciam funções básicas para o Estado, ao mesmo tempo de natureza religiosa e temporal". HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES. São Paulo: Abril Cultural, 1975, p, 44-45.
Como eram as únicas pessoas que conheciam aritmética e, portanto, sabiam fazer cálculos, os escribas ficavam responsáveis pela coleta dos impostos e pela supervisão de toda a administração do soberano egípcio. Por isso, eram considerados essenciais ao governo do faraó.
"O escriba recebia salários. [...] Os salários e impostos eram pagos em produtos - como trigo, pão, carne, frutas, gordura, sal - ou trocados por prestação de serviços. Nas guerras, os escribas acompanhavam os exércitos, encarregando-se de manter os registros em dia". BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. Das origens da humanidade à Reforma Religiosa na Europa. São Paulo: Moderna, 2010. p. 65.
Força: soldados. Modelo funerário. Artesão desconhecido
* Os soldados. Ao contrário dos sacerdotes e dos escribas, os soldados não eram muito prestigiados pela população egípcia. Eles viviam dos produtos recebidos como pagamento e dos saques que podiam realizar durante as guerras de conquista.
No exército egípcio havia também soldados estrangeiros. Estes soldados, em recompensa pelos serviços prestados, recebiam um pedaço de terra.
Os soldados desempenhavam um papel muito importante no Egito Antigo, principalmente durante a fase militarista do Novo Império.
"O exército, profissionalizado, era empregado na defesa das fronteiras do país contra os inimigos externos, além de manter os camponeses e escravos sob dominação e realizar incursões ao Sinai e à Núbia, a fim de conseguir metais (cobre, ouro) e escravos". AQUINO, Rubim Santos Leão de [et alli]. História das sociedades: das comunidades primitivas às sociedades medievais. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2008. p.. 149
Trabalho 1: camponeses. Os camponeses colhiam o trigo com suas foices e amontoavam em feixes nos barcos, transportando-os pelo rio Nilo para todo o Egito. Cultivavam também cevada, frutas e legumes. Pintura em tumba. Artistas desconhecidos
Trabalho 2: artesão. Pintura. Artista desconhecido
Trabalho 3: transporte de ânforas. Pintura mural. Artistas desconhecidos
* Os camponeses e artesãos. Os trabalhadores braçais - camponeses e artesãos - constituíam a camada inferior da sociedade egípcia e também a mais numerosa. Os camponeses (mais numerosos que os artesãos) trabalhavam nas terras do faraó e da nobreza. Os artesãos eram marceneiros, pintores, escultores, tecelões e ourives, alguns, verdadeiros artistas. Os artesãos trabalhavam nas oficinas pertencentes ao faraó.
"Os artesãos produziam lanças, arcos e escudos para as tropas que combatiam as guerras. Também fabricavam objetos como vasos de cerâmica, cestos, sandálias, perucas, tecidos, barcos fluviais e estátuas gigantescas. Para as camadas privilegiadas, esses profissionais produziam joias, esculturas, quadros e objetos destinados a enfeitar as tumbas. Existiam também artesãs que fabricavam perfumes, óleos para o corpo, roupas e produtos de maquiagem". BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. Das origens da humanidade à Reforma Religiosa na Europa. São Paulo: Moderna, 2010. p. 65.
As condições de vida desses trabalhadores eram muito duras. Como pagamento pelo seu trabalho, eles recebiam uma pequena parte do que produziam. Moravam em cabanas muito simples e se vestiam pobremente. Conformavam-se, porém, com a expectativa de uma vida melhor depois da morte. Por isso, o que conseguiam poupar era guardado para o funeral [...].
"Os camponeses alimentavam-se de pão, cerveja e legumes. Às vezes, peixe e fruta podem entrar no seu cardápio". KOENNING, Viviane. Às margens do Nilo, os egípcios. São Paulo: Augustus, 1990.
"[...] Os trabalhadores, no entanto, muitas vezes se revoltaram contra seus exploradores. A desagregação do Antigo Império deveu-se, exatamente, a uma série de lutas sociais. [...] Há, até, registros de greves". NEVES, Joana. História Geral - A construção de um mundo globalizado. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 59.
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Mercado de escravos: núbios aguardam para serem vendidos. Relevo. Artista desconhecido |
* Os escravos. Os escravos eram prisioneiros de guerra e não constituíam um grupo muito numeroso. Realizavam os trabalhos pesados, como a extração de enormes pedras das pedreiras e a construção de templos, palácios e pirâmides.
Comparados a outros povos do período, os egípcios eram mais tolerantes com seus escravos e, em geral, tratavam-nos bem.
"[...] O egípcio considerava obrigação dispensar bom tratamento a seus escravos. O Livro dos mortos inclui, entre os pecados a serem negados, o excesso de trabalho imposto aos escravos e os maus-tratos infligidos aos mesmos. Segundo uma lei antiga, quem matasse voluntariamente um escravo, merecia a pena de morte. Heródoto afirma que no Delta do Nilo existia outrora um templo em que os escravos fugitivos encontravam refúgio.
A condição dos escravos utilizados nas grandes obras públicas era extremamente cruel. Nas minas, nas pedreiras, nas construções monumentais, milhares de escravos deixavam a marca de seu ingente esforço e de seu sofrimento". GIORDANI, Mário Curtis. História da antiguidade oriental. Petrópolis: Vozes, 2012. p. 102-3.
Mulheres: carpideiras. Afresco na tumba de Ramose. Artistas desconhecidos
* A mulher egípcia. "A família egípcia parece apresentar a marca de antigos usos que davam à mulher um lugar muito amplo, talvez mesmo de preponderância. Invocava-se frequentemente, por exemplo, a filiação materna pelo menos em pé de igualdade com a ascendência paterna. Em caso de morte de marido, se não havia um filho adulto, a mulher assumia a chefia da família, inclusive no que dizia respeito às relações com o Estado. De maneira oficial, talvez após um certo tempo, principalmente depois de se tornar mãe, era chamada 'dona de casa', e tal expressão parece ter revestido seu pleno sentido jurídico, embora a casa proviesse do marido." AYMARD, André; AUBOYER, Jeannine.
O Oriente e a Grécia. Rio de Janeiro: Difel, 1977. p. 49. (História geral das civilizações, v. 1)
Jovens: filhas do faraó Amenófis IV. Afresco. Artistas desconhecidos
"Seja como for, [...] a mulher egípcia era sui juris, podendo dispor livremente de seus bens, intentar processos na justiça, tomar a iniciativa do divórcio tanto quanto o homem, desempenhar um papel ativo em diversas atividades produtivas, de serviços e eventualmente de gestão, enfim ir e vir com ampla liberdade. Havia, sem dúvida, certas limitações. [...] a direção da vida pública sempre esteve maciçamente em mãos masculinas; e tal tendência se fortaleceu com o tempo.
Na vida privada, porém, em termos gerais se mantiveram os amplos direitos da mulher, igual participação na herança paterna e materna, controle sobre os seus bens pessoais (mesmo quando geridos pelo marido, situação bastante corrente) etc. É certo, entretanto, que a mulher era encarada como tendo uma vocação essencialmente doméstica [...] ligada seja à administração da casa [...], seja à realização de tarefas no seu âmbito: fabricação de pão e cerveja, manufaturas de fios e tecidos. [...] Com maior frequência, era o homem que intervinha em transações e, em geral, na gestão do patrimônio familiar [...].
Família: um casal egípcio sentado. Escultura. Artista desconhecido
O casamento no antigo Egito não era sancionado por qualquer ritual religioso ou ato administrativo. Tratava-se de um ato social, selado por festividades que envolviam a comunidade num nível estritamente local. Em suma, a natureza do matrimônio era secular e, em si mesmo, não tinha caráter jurídico. [...] O Estado só intervinha, eventualmente, em questões de adultério no sentido de manter a ordem pública - limitando, por exemplo, a vingança privada." CARDOSO, Ciro Flamarion. "Algumas visões da mulher na literatura do Egito faraônico (II milênio a.C.)". In:
História. São Paulo: Unesp, 1999. v. 12. p. 103-5.
Costumes: senhora em sua toalete ajudada por duas servas. Pintura mural. Artistas desconhecidos
* Costumes. "A maior parte da população vivia em pequenas casas de tijolos de barro, quase sempre recobertas por um teto de palha. Seu principal alimento era pão de cevada, às vezes acompanhado de cebolas, tâmaras e figos. Do pão de cevada obtinha-se uma pasta que, fermentada e espremida, resultava numa cerveja leve, muito apreciada pelos egípcios. A carne, as aves e os peixes eram reservados às pessoas abastadas, e também o vinho produzido no país ou importado da Síria. Consumido por todas as classes, o leite constituía um alimento básico; e o único adoçante utilizado era o mel.
Costumes: moda feminina. Pintura. Artista desconhecido
Homens e mulheres usavam vestimentas de linho. A sendit masculina não passava de uma simples tanga que envolvia os quadris. Mas a roupa feminina cobria o corpo do colo aos tornozelos, sustentada por alças e, às vezes, enfeitada com bordados. Durante o Novo Império, as mulheres introduziram certos refinamentos em suas vestes, principalmente tecidos transparentes com pregas delicadas. Amuletos, flores esmaltadas, pesados peitorais metálicos, pérolas multicoloridas, anéis, brincos, braceletes e pulseiras nos tornozelos eram usados tanto pelos homens como pelas mulheres.
No Egito Antigo, praticava-se comumente a poligamia, apesar de uma das esposas ter uma posição privilegiada no lar. Na família dos faraós, supõe-se que esta honra cabia à mãe do primeiro filho do sexo masculino, o qual, geralmente, herdava o trono. Embora o homem pudesse ter quantas concubinas quisesse em sua casa, só os elementos das classes abastadas possuíam um grande harém. E, ao que tudo indica, a mulher gozava de uma posição importante na família egípcia". HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES. São Paulo: Abril Cultural, 1975. p. 16-7.
AQUINO, Rubim Santos Leão de [et alli].
História das sociedades: das comunidades primitivas às sociedades medievais. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2008.
AYMARD, André; AUBOYER, Jeannine.
O Oriente e a Grécia. Rio de Janeiro: Difel, 1977. (História geral das civilizações, v. 1)
ARRUDA, José Jobson. História Total 3: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Ática, 1998.
BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho.
História: das cavernas ao terceiro milênio. Das origens da humanidade à Reforma Religiosa na Europa. São Paulo: Moderna, 2010.
CARDOSO, Ciro Flamarion. "Algumas visões da mulher na literatura do Egito faraônico (II milênio a.C.)". In:
História. São Paulo: Unesp, 1999. v. 12.
FERREIRA, Olavo Leonel.
Egito, Terra dos Faraós. São Paulo: Moderna, 1993.
GIORDANI, Mário Curtis. História da antiguidade oriental. Petrópolis: Vozes, 2012.
HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES. São Paulo: Abril Cultural, 1975.
KOENNING, Viviane.
Às margens do Nilo, os egípcios. São Paulo: Augustus, 1990.
MAN, John. A história do alfabeto. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.
NEVES, Joana.
História Geral - A construção de um mundo globalizado. São Paulo: Saraiva, 2005.
ROBERTS, J. M.
O livro de ouro da história do mundo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.