Paisagem brasileira com uma casa de trabalhadores, Frans Post
Não foi exatamente como se Rembrandt ou Rubens tivessem desembarcado nos trópicos. Mas foi quase. A chegada dos pintores Frans Post e Albert Eckhout a Pernambuco, em 1637, assinala, de certo modo, uma das datas mais fulgurantes da história da arte no Brasil. Trazidos para o Recife por Maurício de Nassau – pessoalmente responsável pelo pagamento de seus salários -, Eckhout e Post legaram à posteridade um extraordinário tesouro cultural: a mescla entre arte e ciência que eles concretizaram plenamente, das plantas, dos animais e dos indígenas do Brasil. Quase quatro séculos depois, seus trabalhos preservam o mesmo frescor e a mesma qualidade.
Índia Tapuia, Albert Eckhout
Post e Eckhout eram os mais
brilhantes, mas não os únicos pintores integrantes da comitiva que Nassau fez
desembarcar no Recife. Outros seis artistas os acompanhavam. Todos tinham casa
e comida, salário fixo e muito trabalho pela frente: seriam os primeiros
europeus a registrar, in loco, a
exuberante natureza do Novo Mundo em possessões que, até então, haviam estado
sob domínio português.
Mocambos, Frans Post
Albert Eckhout (nascido em
Groningen, na Holanda, em 1612) viveu no Brasil durante sete anos, de 1637 a 1644 – dos 25 aos 33
anos de idade, portanto. Sentava-se à mesa do jovem conde (que havia
desembarcado no Recife com 33 anos incompletos), geralmente em companhia de
Frans Post, que também chegara aos trópicos no fulgor de seus 25 anos. Eckhout
foi um pintor naturalista com excepcional domínio do desenho de modelos vivos,
dono de um estilo altamente individual e detalhista, disposto a documentar
tipos humanos, plantas e animais que os europeus jamais haviam retratado.
Mulher Banto, Albert Eckhout
Eckhout era fascinado pelo exótico.
Seus retratos em tamanho natural de indígenas, mestiços e negros lhes concedem,
além de rigor antropológico e etnográfico, uma grande dose de altivez e
dignidade: Eckhout pintou indivíduos, não meros exotismos tropicais. Sua obra
foi magnificamente complementada pela de seu colega Frans Jansz Post, cultor
das paisagens brasileiras que se deixou fascinar pela luminosidade e pelo viço
do Novo Mundo – elementos que tão bem soube capturar em suas telas. Ao retornar
para a Europa, Nassau doou os quadros de Post ao rei Luís XIV, da França, e os
de Eckhout para Frederico III, da Dinamarca.
Fazenda, Frans Post
Outro artista cuja obra celebra o
chamado “período nassoviano” é Zacharias Wagener. Mero soldado raso a serviço
da Companhia das Índias Ocidentais, seu nome não constava da lista original de
artistas trazidos para o Brasil. Mas, desde sua chegada ao Recife, em 1634,
esse alemão de Dresden demonstrou muita habilidade e um interesse permanente
pela natureza tropical. Promovido a “dispenseiro-escrevente” e a escrivão
particular de Nassau, Wagener, simples “pintor de domingo”, acabou produzindo
centenas de aquarelas e litogravuras dos animais brasileiros. Ao retornar para
a Europa, em 1643, levava consigo os originais do Thierbuch, ou Livro dos
Animais, uma espécie de versão popular da Historia Naturalis Brasiliae, de Marcgraf. Mais do que isso: a obra
de Wagener teve grande influência sobre Albert Eckhout. E, junto com Frans
Post, Eckhout foi, definitivamente, um gênio da arte vivendo no Brasil.
BUENO, Eduardo. Brasil: uma história. São Paulo: Ática,
2005. p. 94-95.
Galeria de imagens 1: Obras de Frans Post
Galeria de imagens 1: Obras de Frans Post
Vista de Olinda
Muro com cavalos e escravos
Casas de trabalhadores
Uma paisagem brasileira
Vista das ruínas de Olinda
Engenho de açúcar
Vila de Ipojuca
Vista da Ilha de Itamaracá
Paisagem brasileira
Igreja de São Cosme e São Damião em Igarassu
Engenho de Pernambuco
Paisagem do rio Senhor de Engenho
Paisagem ribeirinha com aldeia
Galeria de imagens 2: Obras de Albert Eckhout
Abacaxi, mamão e outras frutas
Índia Tupi
Cocos
Mandioca
Mameluca
Castanhas-do-Pará
Dança dos Tapuias
Cabaças
Cabaças finas
Mulato
Melão, repolho e outros vegetais
Homem Tapuia
Cabaça, frutas cítricas e cacto
Homem africano
Bananas, goiaba e outras frutas
Índio Tapuia
Abacaxi, melância e outras frutas