Escravos trabalhando nas minas de ouro de Serro Frio sob o olhar vigilante de capatazes contratados. Aquarela de Carlos Julião
Na zona de mineração, o preço do escravo era muito alto, o que estimulou o comércio interno de mão de obra. Com a economia agrícola em baixa nesse período, várias capitanias vendiam negros para a região das minas. Esse comércio não agradava a Portugal, que deixava de ter lucros com a venda dos escravos africanos. A Coroa chegou mesmo a proibir a transferência de negros das várias capitanias para Minas Gerais.
Ali, os escravos trabalhavam não só nos garimpos, mas também no transporte de carga, levando ouro até o porto do Rio de Janeiro e trazendo para Minas mercadorias importadas de outras regiões. Mais tarde, esse trabalho passou a ser feito por animais.
Nos garimpos, os escravos tinham condições de vida até piores do que nos engenhos: trabalhavam em buracos pouco ventilados, na água ou atolados no barro. Além disso, a alimentação fornecida pelos senhores era reduzida, o que fazia com que os cativos contraíssem facilmente doenças que os levavam à morte. [...]
Não só nos engenhos ou nas minas encontravam-se escravos.
Possuir escravos dava prestígio ao homem branco das cidades: quanto mais rico, mais escravos a seu serviço teria o senhor. Nas casas das famílias mais abastadas havia dezenas de escravos domésticos: amas de leite, babás, mucamas, pajens, arrumadeiras, passadeiras, cavalariços, cocheiros e carregadores de liteiras ou "cadeirinhas", onde os brancos eram transportados de um lugar para outro. As pessoas mais modestas procuravam comprar ao menos um "moleque" para carregar os pacotes quando saíam às ruas. Além do serviço doméstico, eram considerados "trabalho de negro" as obras da construção civil e o comércio ambulante.
Uma prática muito comum nas cidades era a utilização dos chamados "escravos de ganho". O senhor ensinava um ofício ao escravo, que passava a oferecer serviços a terceiros, em troca de um pagamento, chamado ganho. Esse pagamento era repartido com o senhor. A parcela que cabia ao escravo geralmente servia para a compra de matéria-prima ou instrumentos do seu ofício.
QUEVEDO, Júlio; ORDOÑEZ, Marlene. A escravidão no Brasil. São Paulo: FTD, 1996. p. 22-25.
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