Napoleão III e Otto von Bismarck na manhã seguinte à Batalha de Sedan, Wihelm Camphausen
O mapa político da Europa foi redefinido no contexto do Congresso de Viena, quando prevaleceu uma política "de compensações territoriais" às grandes potências, que não levou em consideração as aspirações emancipacionistas de determinadas nacionalidades e, muito menos, as das minorias nacionais.
A Polônia, por exemplo, foi incorporada ao Império Russo czarista desconsiderando-se antigas configurações geopolíticas e a especificidade cultural dos poloneses. Apenas no contexto do pós-Primeira Guerra, é que a Polônia emergiu no cenário político europeu como um Estado Nacional de fato independente.
Assim, entre 1815 e 1871, verificaram-se profundas transformações de ordem geopolítica no continente, em especial na Península Itálica e na Europa Central. Também no século XIX, a questão das nacionalidades europeias foi uma das razões mais significativas para a "explosão" de uma série de movimentos de caráter revolucionário, como os ocorridos em 1830 e 1848.
Conforme observou o historiador René Rémond, "esse século, por direito, pode ser chamado 'o século das revoluções', porque nenhum - até agora - foi tão fértil em levantes, insurreições, guerras civis, ora vitoriosas, ora esmagadas. Essas revoluções têm como pontos comuns o fato de quase todas serem dirigidas contra a ordem estabelecida (regime político, ordem social, às vezes, domínio estrangeiro), quase todas feitas em favor da liberdade, da democracia política ou social, da independência ou unidade nacionais." (RÉMOND, René. Introdução à História de Nosso Tempo. O Século XIX: 1815-1914. São Paulo: Cultrix, 1976. v. 2, p. 13.)
Na década de 1870, ocorreram os processos de unificação da Itália e da Alemanha, que, até então, eram constituídas por várias unidades políticas. Essas denominações (Itália e Alemanha), eram apenas expressões geográficas e culturais. A fragmentação política dificultava o crescimento econômico, uma vez que existiam várias legislações, diversas moedas e barreiras alfandegárias internas que dificultavam a livre-circulação de mercadorias.
Tanto na Itália como na Alemanha, a unificação foi liderada pelos estados mais industrializados: o Reino de Piemonte-Sardenha, na Itália; e o Reino da Prússia, na Alemanha. Nesses reinos, uma rica burguesia (grandes comerciantes e industriais) tinha interesse na criação de um mercado nacional devidamente protegido por tarifas alfandegárias para seus produtos.
Em ambos os casos verificou-se uma conciliação entre burguesias industriais emergentes e aristocratas - na Alemanha, representada pelos junkers e, na Itália, por latifundiários sulistas.
Através de bem sucedidas alianças políticas e de conflitos militares contra países vizinhos poderosos, os reinos de Piemonte-Sardenha e da Prússia lideraram a unificação e, ao mesmo tempo, desenvolveram um projeto político de caráter conservador a fim de evitar a emergência de movimentos sociais de perfil mais democrático e igualitário.
Por isso, nesses dois casos, afirma-se que as unificações foram realizadas "de cima para baixo", com um claro caráter excludente.
Esse caráter conservador das unificações ficou evidenciado no romance O Leopardo, escrito pelo italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896-1958), em 1956. Nessa obra, o autor aborda o processo de unificação italiana a partir da perspectiva de uma família aristocrática decadente da Sicília, cujo patriarca (Dom Fabrizio, Príncipe de Salinas) se mostra apreensivo com a aparente ascensão da classe média e das camadas populares, simbolizadas pelos "camisas vermelhas" liderados por Garibaldi na década de 1860.
Numa passagem do romance, seu sobrinho Tancredi, no entanto, revela o caráter moderado, excludente, antidemocrático e conciliador (aristocracia e burguesia) desse processo histórico por meio de uma frase lapidar: "Se queremos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude".
BERUTTI, Flávio. Caminhos do homem. Curitiba: Base Editorial, 2010. V. 2. p. 78-79.
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