"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 16 de março de 2012

"Outros 500 anos"

Charge de Aroeira.

O meu país não vai me chamar
De besta
Acabou a água fresca
Nas cacimbas do sertão

Sou escravo
maltrapilho, sou
Posseiro
Sou o não ao meu destino
Nessa luta pelo pão

São mais de 500 anos
Tanto trote
Não duvide do meu mote
Sei dizer o que vivi

Minha memória feita de
Brasil Adentro
Eu navego pela História
Do Rio Grande ao Cariri

Eu vi entrando caravelas
da Conquista
Num certo porto inseguro
Obscuro ponto de vista

Vi bandeirantes se
matando
Pelo ouro
Errantes com sede e
drama
Na terra de Pindorama

Cheguei nos pampas
Vi as lutas do meu povo
E percebi ali
o novo
Da vida sendo aprendiz

Na saga dessa gente
Quilombola
Vi precursores, penitentes
Sem esmola
Resistência dos nativos
E barões já decadentes

Feito um lamento
De um tropeiro, ouvi um
Grito estranho
Era dependência e mortes
E o latifúndio tacanho

Passou o tempo
Quero mudança na ação
Agora são outros 500
Pra construir de novo a
nação.

(Chico Alencar)

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