A tendência da religião era florescer com mais vigor quando a vida cotidiana estava em perigo e quando havia muita dor. A religião florescia quando enchentes, secas e outras catástrofes da natureza eram mais destruidoras, quando a fome esperava logo na esquina, e a morte precoce era a expectativa da maioria das pessoas. A religião florescia quando as pessoas viviam da terra e sabiam como era fácil uma colheita, há tanto tempo esperada, ser arrasada por pestes, seca, exaustão do solo ou tempestades. Durante a maior parte da história, a vida humana estava em perigo. A religião dava as respostas aos acontecimentos inexplicáveis da vida de um estado, de uma região ou de uma família. Satisfazendo uma ânsia profunda e, às vezes, inexplicável, ela era também uma fonte de força e inspiração.
A religião era a base de muitas sociedades que, de outra forma, possivelmente teriam desmoronado. Monarcas poderosos ganhavam muito ao sustentá-la. A religião oficial lhes permitia proclamar que eram mesmo descendentes de deuses. As revoluções da França em 1789, na Rússia em 1917 e na China em 1949 se empenharam em derrubar as antigas religiões porque sustentavam a antiga ordem.
No século XX, a religião enfrentou outras dificuldades. Com o aumento da prosperidade e da longevidade, parte do apelo da religião, foi enfraquecido. Na Europa e em algumas regiões dos Estados Unidos, a frequência às igrejas decaiu rapidamente, assim como a aceitação de códigos sexuais e morais pregados por elas.
Apesar disso, no mundo como um todo, a religião permanecia poderosa. O cristianismo e o islamismo conseguiram muito mais adeptos do que o século anterior e seus locais de reunião traçavam uma linha pontilhada por toda a terra. O budismo já não mais tão poderoso na China, reteve sua vitalidade em muitas terras. Na Índia, os hindus, os jainistas, os parses e os sikhs eram extremamente presentes e atuantes. O judaísmo estava vivo e grato por estar vivo. Na África, havia mais pessoas praticando fervorosamente as religiões do que na Europa, em qualquer época. De forma bastante expressiva, exatamente as mesmas igrejas que se recusavam a dar uma trégua às tendências profanas, e continuavam a afirmar sua crença na importância do próximo mundo, eram geralmente as mais vigorosas.
O Islã não dava trégua, havia somente um Deus e Alá era seu nome. A maioria de seus pregadores se opunha à profanação, ao consumismo, ao materialismo e ao que viam como uma cultura cada vez mais atordoada e ímpia em Nova York, Paris, Moscou e Cingapura. Dentro do Islã, os extremistas evangélicos eram evidentes. Eles não eram típicos, mas eram forçados a serem típicos porque suas atividades estavam geralmente nos noticiários. Eram totalmente opostos ao judaísmo e ao cristianismo. Denunciavam o mundo ocidental secularizado como decadente, e extremamente permissivo e tolerante. Por sua vez, eram denunciados como retrógrados e extremamente intolerantes. Disputas tão arraigadas como essas haviam ocorrido repetidas vezes na história da humanidade. Enquanto no ocidente a diversidade cultural e religiosa, talvez pela primeira vez na história, era aclamada por muitos como uma virtude suprema, nas mesquitas era vista quase como um pecado supremo.
Predominantemente uma religião do interior e dos vilarejos, o islamismo no início do século XXI cresceu em ritmo acelerado, em parte porque acreditava em si e em parte porque acreditava em famílias numerosas. Era agora a religião de aproximadamente uma em cada cinco pessoas no mundo e estava crescendo mais rapidamente que o cristianismo, embora ainda muito atrás em seu número total de adeptos. Hoje, os lugares realmente enormes de adoração construídos no mundo são provavelmente as mesquitas islâmicas e, não mais, as catedrais cristãs. Na cidade marroquina de Casablanca, foi recentemente construído o minarete mais alto do mundo e, até mesmo na Venezuela, considerada uma nação católica, os habitantes devotos dos vilarejos do interior ficaram impressionados com o surgimento de uma dessas imponentes mesquitas em seu país.
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A ciência, aclamada no século anterior como a benfeitora da raça humana, era agora condenada por muitos críticos ocidentais como uma destruidora. Uma luta ambiental vigorosa resumiu a tecnologia e a ciência como inimigas que estavam poluindo o céu, a terra e o mar. A poluição tornou-se uma palavra que servia a todos os propósitos de desaprovação. Esse era o primeiro século em que a poluição era vista como uma força mundial. A hostilidade disseminada em relação à ciência e à tecnologia veio quando seus triunfos ainda eram muito mais abrangentes do que suas ameaças.
BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do mundo. São Paulo: Fundamento Educacional, 2004. p. 261-263.
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