[...] o grande avanço alcançado hoje pela Humanidade resultou das descobertas e criações que o Homem acumulou no decorrer da sua existência, transmitindo às gerações seguintes conhecimentos e experiências e permitindo que a Humanidade chegasse ao grau de desenvolvimento que tem hoje.
Outra questão importante [...] é a forma como as sociedades estão hoje organizadas, seja no campo social e econômico, seja no campo político. Por que existem pessoas ricas e outras pobres? Por que algumas residem em mansões ou palácios e outras, em casebres ou barracos? Por que alguns só se divertem, enquanto a maioria só trabalha? Se lembrarmos que todos os homens - no início da História da Humanidade - eram iguais, o que explicaria essas enormes diferenças hoje? Em que momento e por que isso aconteceu?
A História é a Ciência que responde a essas questões. Ao reconstituir o passado da Humanidade - como surgiu o Homem, quais as suas descobertas e invenções, como conseguiu dominar a Natureza, como se relacionou e continua a relacionar-se com os outros homens -, a História nos permite analisar o desenvolvimento das sociedades humanas, através dos tempos, e sua projeção para o futuro.
A História não deve ser vista como uma simples sequência de fatos ou de atos de governantes, como Reis, Imperadores, Presidentes da República ou Generais; ela é feita por todos nós, homens comuns, vivendo em sociedade, cujos objetivos fundamentais são a produção e a satisfação pessoal.
Como a História consegue reconstituir o passado da Humanidade?
Como podemos saber da existência de sociedades que já desapareceram há tanto tempo?
Vamos supor que você queira conhecer o passado da sua família até a geração de seus avós ou bisavós. O que você faria para conseguir este conhecimento? Provavelmente, em primeiro lugar, entrevistaria as pessoas mais velhas para estabelecer uma sequência, no tempo, de todos os parentes até você; chamamos a isto árvore genealógica. Depois, seria necessário recorrer a velhos álbuns de fotografias, papéis de família, como certidões de nascimento, de casamento e de óbito, testamentos, contratos de venda... Como você pôde observar, seriam usados documentos escritos e orais.
O historiador procede de forma semelhante. Para reconstituir a História de uma sociedade, recorre a todo tipo de documentação, sinais, vestígios que consegue encontrar: documentos públicos, cartas particulares, monumentos, inscrições, pinturas, esculturas, templos, casas, utensílios domésticos, armas, túmulos, enfim, tudo aquilo que o Homem, em qualquer tempo e em qualquer lugar, usou, produziu ou, até mesmo, destruiu.
Para a História recente, o trabalho é aparentemente mais fácil, pois existem fotos, discos, filmes, livros, fitas de vídeo e uma infinidade de vestígios. Entretanto, se considerarmos a quantidade de habitantes do mundo, o número de países, a diversidade de culturas, as diferentes formas de organização das sociedades, veremos que o trabalho do historiador é imenso e bastante complexo.
Para facilitar o estudo da História das Sociedades, costumamos estabelecer uma sequência de acontecimentos no tempo - a Cronologia ou Datação.
Nas sociedades ocidentais cristãs, a data de nascimento de Jesus Cristo foi estabelecida como marco. Uma vez estabelecido o momento zero, os fatos históricos são datados em relação a ele, distinguindo-se o que se passou antes e o que ocorreu depois. Nos fatos anteriores, contamos no sentido inverso, indicando sempre a.C., ou seja, antes de Cristo. Os fatos posteriores são contados em ordem crescente, sem qualquer indicação [...].
Há sociedades que adotam uma cronologia diferente. Os muçulmanos usam como marco de seu calendário a Hégira, ou seja, a fuga de Maomé, seu maior profeta, da cidade santa de Meca, ocorrida, segundo o calendário cristão, em 16 de julho de 622. A sociedade judaica tem como marco inicial a criação do mundo [...].
Em História, usamos mais frequentemente três unidades de tempo: o ano, o século (cem anos) e o milênio (mil anos). Os anos são assinalados em algarismos arábicos e os séculos em algarismos romanos. Por exemplo: ano de 1995, século XX. Para identificar a que século pertence certo ano, basta aplicar uma regra prática: somar o número 1 à centena do ano. Vejamos a seguir:
Ano de 1995
19 + 1 = 20 [século XX]
Ano de 1995
19 + 1 = 20 [século XX]
Nos anos terminados em 00, o século corresponde à centena:
Ano de 1900
[século XIX]
A explicação para a regra é simples: do ano 1 ao 100, tivemos o século I, do ano 101 a 200, o século II, e assim por diante.
Para facilitar o estudo das sociedades, é comum dividir a História em grandes períodos, estabelecendo-se a escrita como marco. Assim, seriam consideradas pré-históricas todas as sociedades sem escrita. A História, por sua vez, seria dividida em quatro grandes etapas: a Antiguidade, que iria do aparecimento da escrita ao fim do Império Romano do ocidente (século V); a Idade Média, até o fim do Império Bizantino (1453); a Idade Moderna, até a Revolução Francesa (século XVIII), e a Idade Contemporânea, até os dias atuais.
Esta divisão, muito tradicional, merece críticas, já que considera pré-históricas sociedades de desenvolvimento e organização bastante diferentes, como as comunidades primitivas, que viveram no início da existência do Homem na Terra, e a sociedade inca, muito desenvolvida e de organização bastante complexa, mas que não usava a escrita.
Outra crítica é o fato de cada período ter como marco acontecimentos de importância apenas para as sociedades europeias e não para o conjunto da Humanidade, além de não levar em conta aspectos fundamentais, como a organização dessas sociedades para a produção.
[...]
[...] afirma a professora Vavy Pacheco Borges, em seu estudo O que é História:
"A função da História, desde o seu início, foi a de fornecer à sociedade uma explicação de suas origens. [...] A História se coloca, hoje em dia, cada vez mais próxima às outras áreas do conhecimento que estudam o Homem [...], procurando explicar a dimensão que o Homem teve e tem em sociedade. [...] A História procura, especificamente, ver as transformações pelas quais passaram as sociedades humanas. A transformação é a essência da História [...].
Musa lendo pergaminho (provavelmente Clio, a musa da História). Artista desconhecido. Beócia, c. 435-425 a.C.
[...] O tempo histórico, através do qual se analisam os acontecimentos, não corresponde ao tempo cronológico que vivemos e que é definido pelos relógios e calendários. No tempo histórico, podemos perceber mudanças que parecem rápidas, como, por exemplo, os acontecimentos cotidianos: um golpe de Estado que toma o poder e que seguimos nos jornais. Vemos também transformações lentas, como no campo dos valores morais: o machismo, por exemplo, é um valor que impera na maior parte das sociedades que a História estuda, a ponto de se dizer que a História que está escrita mostra um processo praticamente só conduzido pelos homens. No Ocidente [...] surge um questionamento mais constante deste valor milenar. Isto se dá, em grande parte, devido a uma participação maior da mulher no processo de produção: à medida que as mulheres saem da esfera exclusiva do lar e começam a refletir na realidade."
AQUINO, Rubim Santos Leão de et all. Fazendo a História: da Pré-história ao Mundo Feudal. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1989. p. 10-13.
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