"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 18 de abril de 2017

A sociedade primitiva matriarcal

“[...] enquanto caçam, as mulheres cortam as peles dos animais selvagens que elas cozinham com nervos, furam conchas, dentes, seixos, fazem colares e adornos e se tingem de ocre vermelho – a cor mágica que afasta o perigo.

Vênus de Willendorf.
Foto Mathias Kabel

As tarefas que a mulher executa assim junto do fogo lhe dão uma função essencial: ela conserva os objetos da propriedade e assegura, com sua fecundidade, a prosperidade do clã, cuja força depende do número de braços. Esse duplo encargo dá à mulher uma tal autoridade que a sociedade primitiva repousa no matriarcado.

Para venerar a fecundidade da mulher, os homens reproduzem-lhe a imagem em estatuetas de marfim, e nas paredes das cavernas esses caçadores de mamutes traçam, junto a desenhos de animais, mãos humanas – poder secreto das mãos que se assenhoreiam das coisas. [...] Para os ritos dos cultos, que cavam seus templos em profundos subterrâneos, aperfeiçoa-se a pintura mural. Seu realismo vai até à procura do efeito: a magia suscitou o gênio artístico dos homens, ávidos de tornarem a caça frutuosa e suas mulheres fecundas. O gesto e o grito: dança e canto onde sempre se exprimirá, primeiro, a emoção humana, passando do realismo à abstração.”


RIBARD, André. A prodigiosa história da humanidade. Rio de Janeiro: Zahar Ediores, 1964. p. 9-10.

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