“[...] enquanto caçam, as mulheres cortam as peles
dos animais selvagens que elas cozinham com nervos, furam conchas, dentes,
seixos, fazem colares e adornos e se tingem de ocre vermelho – a cor mágica que
afasta o perigo.
Vênus de Willendorf.
Foto Mathias Kabel
As tarefas que a mulher executa assim junto do fogo
lhe dão uma função essencial: ela conserva os objetos da propriedade e assegura,
com sua fecundidade, a prosperidade do clã, cuja força depende do número de
braços. Esse duplo encargo dá à mulher uma tal autoridade que a sociedade
primitiva repousa no matriarcado.
Para venerar a fecundidade da mulher, os homens
reproduzem-lhe a imagem em estatuetas de marfim, e nas paredes das cavernas
esses caçadores de mamutes traçam, junto a desenhos de animais, mãos humanas –
poder secreto das mãos que se assenhoreiam das coisas. [...] Para os ritos dos
cultos, que cavam seus templos em profundos subterrâneos, aperfeiçoa-se a
pintura mural. Seu realismo vai até à procura do efeito: a magia suscitou o
gênio artístico dos homens, ávidos de tornarem a caça frutuosa e suas mulheres
fecundas. O gesto e o grito: dança e canto onde sempre se exprimirá, primeiro,
a emoção humana, passando do realismo à abstração.”
RIBARD, André. A prodigiosa história da humanidade. Rio de Janeiro: Zahar Ediores, 1964. p. 9-10.
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