O derrubador brasileiro, Almeida Junior
Pindorama terra índia sagrada
pisada
[por Cabral] tomada
[em nome do rei de Portugal] cruz fincada
missa rezada
colonizada
[por gente] degredada
terra plantada
[por gente] escravizada
[gente de arco e flecha] despojada...
Capitães-donatários
erguem vilas
ricas
para colonos
frias
senzalas
para escravizados
constroem engenhos
trabalhados
por negros
vigiados
sob chicote dos
feitores
levantam
casas-grandes
para senhores
capelas
para padres...
Governadores-gerais fincam pelourinhos
[ouve-se burburinhos]
para humilhantes castigos.
“Homens-bons”
cobram tributos
injustos
fazem ”guerras justas”
injustas
aos “negros da
terra”!
Capitães-do-mato
caçam negros fugidos do eito.
Bandeirantes
vergam Tordesilhas.
À procura de pedras preciosas
caçam índios nas missões jesuíticas.
Piratas
e corsários assaltam feitorias
e vilas.
Conjurados mineiros
Conjurados baianos
Quantos sonhos enforcados!
Tantos sonhos abortados!
Colônia de
casas-grandes e senzalas.
Libertas quae sera tamen.
Rio dos vice-reis civilizado
[pela Corte
portuguesa] sifilizado!
Pedro, espada em riste
resiste
Brasil independente.
- Onde estava o povo?
Índios massacrados
Negros
escravizados
(In) dependência...
para quem?
Farrapos
cabanos
balaios
sabinos
malês - escravos
pobres diabos!
Milícias da Guarda Nacional os massacram!
Soldados de
Caxias atravessam espadas
afiadas
nos ventres
das mulheres
paraguaias.
Muero con mi Patria!
Aos trancos
e barrancos
imigrantes
europeus
singram
o Atlântico
trazendo
na bagagem
sonhos
libertários.
Siamo tutti buona gente.
Escravos resistem
abolicionistas insistem
abolição
vem
cidadanias negadas
ex-escravos tem.
Heranças sombrias!
Exército rebela-se!
Igreja tolera-se!
Império de
sobrados
e mocambos.
República volver!
Deodoro
saca a espada.
A massa assiste a cena bestializada:
- Era uma parada?
O Rio civiliza-se:
“Bota-abaixo”!
Povo marginalizado.
Vacina obrigatória.
Queimam-se bondes!
Chibata no lombo dos
negros
Capoeiras perseguidos
Terreiros invadidos
Sangue na Guanabara!
Conselheiro profetiza:
“o sertão virará um mar de sangue”.
Padim Ciço abençoa
cangaceiros
coronéis
jagunços.
Sertanejos de terras contestadas.
Virgens violadas.
Entre mandacarus
vagueiam cangaceiros.
Roubam
dos ricos.
Alimentam os necessitados!
Jagunços armados
garantem votos
de cabresto
para coronéis poderosos.
Café-com-leite oligárquico:
artistas se
revelam
tenentes se
rebelam.
Antropofagia pau-brasil
na terra de Macunaíma!
O DIP censura
o Estado Novo tortura.
Graciliano Ramos escreve memórias no cárcere.
Olga agoniza no campo alemão da morte.
sorri J
uscelino
renuncia J ânio
depõe-se
J ango
Congresso [fechado]
Comunistas [presos]
Artistas (exilados)
Tempos difíceis!
Nos # porões #da ditadura
carrascos TORTURAM
arrancam
confidências
inconfidenciáveis
Matam em nome da
Tradição
Família
Propriedade
Araguaias
Caparaós
guerrilhas libertárias
utopias massacradas!
O povo toma as ruas:
- Diretas-Já!
Faz-se constituinte
prostituinte
Constituição
prostituição.
Jovens
caras-pálidas-pintadas
d’almas
lavadas
palafitadas.
Índios
violados
jovens negros pobres
favelados
massacrados
pelas polícias truculentas dos estados
Brasis
de palacetes
cacetes
cassetetes
gentes
sofridas e resistentes!
©
2016 by Orides Maurer Jr.
MAURER
JR., Orides. O olhar do historiador:
vidas cotidianas. Curitiba: Liberum, 2016. p. 119-125.
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