Modelo de uma casa
A impressão de poder é produzida principalmente pelas realizações arquitetônicas ou, ao menos, por aquelas das quais ainda subsistem traços suficientes. Isto porque os nossos conhecimentos têm limites. Inicialmente, de ordem cronológica: o Médio Império está mal representado; a maior parte dos túmulos desta época, construídos de tijolos, não constituem hoje em dia senão montículos informes; os templos, certamente edificados em grande número e de maneira mais sólida, sofreram, em seguida, múltiplas transformações. Mas, além disto, encontramo-nos tolhidos por limites de ordem lógica.
Com efeito, para tudo o que se destinava aos homens durante sua vida terrena, uma preocupação de rapidez levava à utilização preferencial de materiais mais facilmente encontráveis: sobretudo os tijolos crus, hoje desmoronados e desagregados. Nestas condições, os próprios palácios reais escapam, ou quase, às tentativas de reconstituição: só nos deixaram alguns revestimentos das paredes ou do solo, algumas escavações, onde podemos adivinhar a localização dos lagos para diversões, assinalados nos textos; tais restos empalidecem diante de tantas ruínas monumentais. Se isto se verifica com os palácios, que dizer, então, das casas particulares e, mais ainda, das cidades?
Não obstante, as escavações arqueológicas forneceram algumas indicações. Por exemplo, o sítio de uma cidade temporária, organizada sob o Médio Império, junto a uma oficina de construções, pôde ser pesquisado tanto mais comodamente quanto o fim dos trabalhos provocara o seu abandono. Aí foi possível levantar o plano das casas estandartizadas, tanto para o pessoal de direção, como para os trabalhadores: tudo isto muito indistinto, é verdade, tanto assim que não nos é permitido determinar, nas grandes casas, a finalidade da maioria dos cômodos. Limitemo-nos a assinalar o estrito fechamento das casas para o exterior, o longo corredor com um cotovelo e que levava ao pátio principal, onde havia um pórtico num dos lados maiores; os pátios ou pátiozinhos internos com colunas e tanques, os terraços que, acima dos cômodos, permitiam acesso fácil à frescura da noite: em suma, organizações que correspondiam ao duplo desejo de intimidade doméstica e conforto. Quanto às moradas populares, edificadas num bairro especial, separado do bairro rico por uma muralha, limitavam-se a três ou quatro aposentos exíguos, formando um elemento, por sua vez, articulado num conjunto monótono, de plano geométrico: um tabuleiro de casinholas.
Pondo-se de lado os jardins e a contiguidade, foram encontrados em outras partes, conforme a classe social interessada, ora a procura da vida agradável, ora a humildade. Mas nada temos, lá, que nos surpreenda e seja verdadeiramente original. O mesmo não acontece com os templos e túmulos, monumentos feitos de materiais sólidos - não faltava pedra para isto - e, por definição, construídos para uma eternidade que não lhes faltou.
AYMARD, André; AUBOYER, Jeannine. O Oriente e a Grécia: as civilizações imperiais. São Paulo: Difel, 1972. p. 91-3. (História geral das civilizações, 1).
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