Touro Sentado, ca. 1881.
Fotógrafo: Orlando Scott Goff
Aos trinta e dois anos, batismo de fogo. Touro Sentado defende sua gente diante de um ataque das tropas inimigas.
Aos trinta e seis, sua nação indígena o elege chefe.
Aos quarenta e um, Touro Sentado senta-se. Em plena batalha, nas margens do rio Yellowstone, caminha até os soldados que disparam e senta-se no chão. Acende seu cachimbo. Zunem as balas, feito vespas. Ele, imóvel, fuma.
Aos quarenta e três, fica sabendo que os brancos encontraram ouro nas Black Hills, em terras reservadas aos índios, e começaram a invasão.
Aos quarenta e quatro, durante uma longa dança ritual, tem uma visão: milhares de soldados caem do céu feito gafanhotos. Naquela noite, um sonho anuncia: Tua gente derrotará o inimigo.
Aos quarenta e cinco, sua gente derrota o inimigo. Os sioux e os cheyennes, unidos, dão uma tremenda coça no general George Custer com todos os seus soldados.
Aos cinquenta e dois, após alguns anos de exílio e cadeia, aceita ler um discurso de homenagem ao trem do Pacífico Norte, que terminara a construção de suas vias. No final do discurso, põe os papéis de lado e, encarando o público, diz:
- Os brancos são todos ladrões e mentirosos.
O intérprete traduz:
- Nós agradecemos a Civilização.
O público aplaude.
Aos cinquenta e quatro, trabalha no show de Búfalo Bill. Na arena do circo, Touro Sentado representa Touro Sentado. Hollywood ainda não é Hollywood, mas a tragédia já se repete como espetáculo.
Aos cinquenta e cinco, um sonho anuncia a ele: Tua gente vai te matar.
Aos cinquenta e nove, sua gente o mata. Índios que vestem uniforme de policial trazem uma ordem de prisão. No tiroteio, ele cai.
GALEANO, Eduardo. Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre: L&PM, 2015. p. 228.
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