"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 10 de março de 2016

Bosch

O jardim das delícias terrenas (detalhe), Hieronymus Bosch

Um condenado caga moedas de ouro.
Outro pende de uma chave imensa.
A faca tem orelhas.
A harpa toca o músico.
O fogo gela.
O porco veste touca de freira.
No ovo, habita a morte.
As máquinas manejam as pessoas.
Cada um na sua.
Cada louco com sua mania.
Ninguém se encontra com ninguém.
Todos correm para lugar nenhum.
Não têm nada em comum, exceto o medo mútuo.

- Há cinco séculos, Hieronymus Bosch pintou a globalização - comenta John Berger.

GALEANO, Eduardo. Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre: L&PM, 2015. p. 100-101.

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