As transformações políticas e econômicas que marcaram as primeiras décadas do século XX foram acompanhadas por uma série de conflitos de vários tipos. De um lado, a urbanização crescente gerou o aumento das camadas pobres nas cidades, assim como o confronto de seus interesses com os dos novos habitantes, latifundiários, comerciantes e industriais. A preocupação em modernizar os centros urbanos e torná-los mais adequados a seu usufruto levou-os a expulsar pouco a pouco, para a periferia, a população pobre. A tensão assim gerada propiciou revoltas, como a do Rio de Janeiro, em 1904, contra a obrigatoriedade da vacina contra a varíola, aplicada truculentamente por agentes do governo.
Capa da Revista da Semana sobre a Revolta da Vacina, 1904
No campo, a modernização da economia abalou as antigas relações sociais, marginalizando uma parte significativa da população. O resultado foi o surgimento de grupos como os dos cangaceiros, que agiam no sertão nordestino, e de líderes messiânicos como o padre Cícero, no Nordeste, e José Maria, na região do Contestado - onde eclodiu uma revolta que durou de 1912 a 1915.
Cangaceiros, Aldemir Martins
Ocorreram ainda manifestações de insatisfação em outros setores, como o dos marinheiros, que se rebelaram em 1910 - na chamada Revolta da Chibata - contra os castigos físicos comuns na Marinha daquele tempo.
Marinheiros durante a Revolta da Chibata - João Cândido ao centro, 1910. Fotógrafo desconhecido
A substituição dos escravos por imigrantes, principalmente em São Paulo, onde a imigração era subvencionada pelo governo estadual, levou à entrada no país de um grande número de trabalhadores europeus. Embora a maioria dos imigrantes tenha permanecido na agricultura, muitos mudaram-se para as cidades, onde se empregaram na indústria nascente. Trazendo consigo uma experiência de relações de trabalho diferente daquela conhecida até então no Brasil, logo trataram de se organizar em torno de jornais e sindicatos operários. Buscavam lutar por melhorias nas suas condições de vida, extremamente precárias devido aos baixos salários e à falta de direitos básicos, como a definição de uma jornada diária compatível e de normas de segurança no trabalho. O resultado foi a crescente eclosão de greves, especialmente nas regiões de maior concentração industrial, paralelamente aos conflitos no campo.
CAMPOS, Flávio de; DOLHNIKOFF, Miriam. Atlas História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1993. p. 44.
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