Jogar capoeira, Rugendas
O canto e as palmas vinham lá do fundo do quintal da fazenda. Rodeados pelos companheiros de trabalho, os negros divertiam-se com a brincadeira trazida de Angola. Rabo de arraia, vôo de morcego, tesoura, rasteira, cabeçada, pião, chibata, espada, baião: em todos os golpes, o espaço cortado pelos corpos brilhantes. Um instante de leveza naquela vida de canseiras!
Desconfiado, o feitor olhava. E se sentia ameaçado. Tinha razão: brincando, jogando, cantando, os negros também se preparavam para a fuga. Aprontavam tudo para cair na caa (mato) puera (que foi para). Uma vez na capoeira, era preciso ter pernas e braços bem ágeis. As melhores armas contra os perseguidores!
Folga nego
Branco não vem cá
Se vié
Pau há de levá.
Nas cidades, já no século passado, o negro continuava jogando a capoeira. Ele gostava e precisava, para se defender da polícia. Por isso organizava-se em bandos, as maltas de capoeira. Sentia também que sua cultura não podia morrer como morriam os negros no cativeiro.
A brincadeira ia tomando conta de Salvador, Recife, Rio de Janeiro. As autoridades não gostavam:
- O que os visitantes vão pensar do Brasil?
As autoridades não queriam:
- Os "capoeiras" não passam de vadios e selvagens!
No final do século XIX, o marechal Deodoro, primeiro presidente da República, chegou a proibir a brincadeira. Mas os negros resistiram, com o pé e a mão, navalha e pau.
Capitão do mato
Veja que o mundo virou
Foi no mato pegar negro
Mas o negro o amarrou...
É a mão pelo pé
É o pé pela mão
Bate na cara
Derruba no chão.
ALENCAR, Chico [et alli]. Brasil Vivo 1: uma nova história da nossa gente. Petrópolis: Vozes, 1991. p. 62.
Nenhum comentário:
Postar um comentário