Gezo, rei do Daomé, Frederick E. Forbes
Diversos mercadores europeus que realizaram negócios nos portos da Guiné deixaram relatos detalhados de suas experiências pessoais e dos povos com que mantiveram contatos. O comerciante inglês de escravos, Robert Norris, descreveu em detalhes a magnitude da corte do rei Tegbessu, sucessor de Agadjá, e os sinais de obediência demonstrados por seus súditos, durante a visita ao Daomé em 1772:
"Preparei-me para a visita ao rei, mandando desembrulhar uma bela liteira e um órgão portátil que mandara vir de Juda (Uidá): enviei esses dois presentes ao palácio do rei [...].
[...] Ao chegar diante do rei, expliquei-lhe a maneira de utilizar a liteira, que disse ser mais cômoda que aquela espécie de padiola de que ele se servia habitualmente. Nessa altura, ele mandou chamar uma dúzia de servidores encarregados de o transportar, que se aproximaram caminhando de quatro; em obediência aos desejos do rei, entrei na liteira, ensinei-lhes como deviam proceder e eles foram experimentando, um a um. Nesta altura, o rei manifestou a vontade de passear também na liteira e deu várias voltas à corte, em meio aos gritos e aclamações dos ministros e de sua esposa. O coche era muito elegante: tinha assentos de marroquim vermelho e era forrado de seda branca. Ele ficou encantado e divertia-se muito a abrir e fechar as cortinas, que lhes pareceram uma invenção muito engenhosa; finalmente, no meio de uma grande euforia, mandou eunucos para substituir os homens que transportavam a padiola; a porta que dava para os seus aposentos foi aberta e ele mandou que o levassem até junto das suas mulheres, para que elas vissem o belo presente que acabou de receber.
[...] O rei sentou-se em meio aos gritos e aclamação do povo, debaixo da tenda, numa cadeira de braços muito bonita, coberta de veludo carmesim, e enfeitada com esculturas e dourados.
Vi desfilar uma guarda de cento e vinte homens armados de grandes mosquetes e marchando aos pares; seguiam-lhe quinze filhas do rei, muito belas, acompanhadas de cinquenta escravos; depois delas, vinham, em ordem regular, umas atrás das outras, setecentas e trinta das suas esposas, transportando provisões e licores para um festim que iria realizar-se na praça do mercado. Eram seguidas de uma escolta de oitenta mulheres armadas, batendo em tambores. Nessa altura, foi posta uma mesa onde almocei enquanto a procissão continuava a passar. Vi aparecer seis batalhões de setenta mulheres cada um, à cabeça dos quais marchava, abrigada por um guarda-sol, uma favorita: impediram-me de vê-la tapando-a com o guarda-sol e com uma espécie de grandes escudos de couro, cobertos de seda vermelha e azul. Todas aquelas mulheres divertiam o rei com suas canções e danças, à medida que passavam. Nunca esperei ver tamanha variedade e tão grande profusão de tecidos de seda, de pulseiras de prata, de joias e corais, de colares valiosos e de ricos enfeites." Fonte: NORRIS, Robert. Memoirs of the Reign of Bossa-Abadce; with an Account of a Journey to Abomey in 1772. Apud COQUERY-VIDROVICH, Catherine. A descoberta da África. Lisboa: Edições 70, 2004, p. 148. (Lugar da História)
MACEDO, José Rivair. História da África. São Paulo: Contexto, 2013. p. 75-76.
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