As padeiras, José Malhoa
Havia vários hospitais na cidade, uma vez que eram mais do que necessários para abrigar, entre outros enfermos, alguns dos debilitados passageiros e tripulantes que chegavam nos 1.500 navios que demandavam, mensalmente, o porto lisboeta. O maior era o de Todos os Santos, construído no Rossio, em 1492, próximo à principal artéria da cidade, a rua Nova dos Mercadores, onde estavam instaladas as mais importantes casas de comércio de especiarias.
O fado, José Malhoa
A vida espiritual da população
era orquestrada por várias igrejas, espalhadas pelas partes alta e baixa da
cidade. A mais importante era sede do bispado, a sé de Lisboa, uma catedral
gótica, construída em 1150, por ordem de D. Afonso Henriques, sob as ruínas de
uma mesquita. Ela seria danificada por dois tremores de terra, no século XIV,
e, finalmente, devastada pelo terremoto de 1755, que destruiria boa parte de
Lisboa e obrigaria o marquês de Pombal a reconstruir suas ruas, no traçado reto
que obedecem ainda hoje.
A religiosidade do povo
português, expressa pela imensa quantidade de igrejas, tornava habitual cruzar
pelas ruas com procissões ou festejos de santos, ao passo que comemorações
profanas estavam terminantemente proibidas.
Entretanto, a principal diversão
dos fidalgos era freqüentar bordéis e tavernas. Recusar um convite de um nobre
para ter com prostitutas era considerado uma ofensa grave. Outro público que
freqüentava com assiduidade o ambiente eram os marujos, sempre famintos de
companhia feminina, após meses no mar. A ampla demanda pelo serviço era
acompanhada, igualmente, de uma numerosa oferta. Existiam bordéis em número
igual ou superior ao de igrejas, enquanto as tavernas talvez somassem o dobro
da quantia.
Cena de bordel, Brunswick Monogrammist
Sendo freqüente o vai-e-vem de
forasteiros, existiam em Lisboa inúmeras hospedarias. A maioria delas era muito
simples, confundindo-se com os bordéis, em cujos quartos não havia mais do que
uma cama, uma pequena mesa, uma cadeira, uma bacia com água e um penico, para
que os hóspedes mais exigentes cuidassem da própria higiene.
Os fidalgos e marujos que
compartilhavam as prostitutas quase sempre eram brindados com as mais diversas
doenças venéreas, o que fazia muitos evitarem o contato com profissionais,
apesar da grande quantidade de bordéis disponíveis. A alternativa mais “à mão”
era cortejarem as muitas senhoras cujos maridos estavam ausentes, servindo nas
colônias e nos navios portugueses.
PESTANA, Fábio Ramos. Por
mares nunca dantes navegados: a aventura dos Descobrimentos. São
Paulo: Contexto, 2008. p. 45-46.
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