As mulheres portuguesas eram
tidas pelos estrangeiros como as mais belas da Europa. Isso, é claro, para os
padrões da época, nada semelhantes àqueles seguidos pelas esqueléticas top
models de nossos dias. As mais bonitas eram aquelas mais “cheias”, de
belos olhos castanhos, grandes e vivazes. Tinham a pele muito branca, pois
andavam com o corpo todo coberto, inclusive a cabeça, protegida por um lenço,
compondo um manto que ocultava o rosto sob sombras. Era considerado sinal de
paquera uma mulher mostrar a face para um transeunte.
As damas da sociedade nunca
andavam desacompanhadas pelas ruas. Saíam, comumente, em liteira, seguidas por
um escudeiro e um cortejo de criadas e filhas, a pé. Apenas os homens, e de
posição, podiam andar a cavalo pela cidade, algo regulamentado por decreto
régio. Alguns fidalgos optavam por se deslocar sentados, em cadeiras carregadas
por escravos.
A despeito de as mulheres casadas
portuguesas serem tidas como extremamente fiéis no matrimônio, conseguir a
companhia de uma senhora casada não era difícil, num país em que os esposos
estavam, constantemente, viajando. Porém, havia o risco de o casal “em pecado”
ser pego de surpresa pelo confessor da senhora, ou pelo próprio marido traído,
já que o retorno do cônjuge era sempre imprevisível. Aqueles que não arriscavam
levar a esposa consigo entregavam-na à vigilância de um pároco de confiança.
Também não faltavam padrecos a se aproveitar da ocasião para liberar a libido
com suas protegidas.
Em qualquer caso, o risco maior
era assumido pela mulher, pois, em se tratando de adultério ou estupro, a
legislação impedia a punição dos implicados se eles fossem fidalgos. Quanto aos
marujos, no máximo, levariam algumas chicotadas em praça pública. Já a esposa
podia sofrer os maiores abusos, sem que o marido fosse penalizado.
O medo da traição e os constantes
casos, em que estiveram implicados nobres, fizeram com que o homem português se
tornasse muito possessivo, deflagrando cenas de ciúmes contra as mais castas
senhoras. Tornaram-se célebres vários casos de violência doméstica, ocorridos
em Portugal entre os séculos XVI e XVII. Em certa ocasião, uma mulher teve a
cabeça pregada ao assoalho, só por ter acenado ao cumprimento de um estrangeiro
que passava, em uma procissão, defronte à janela de sua casa.
Justamente para evitar
constrangimentos e a possibilidade de a amante ser martirizada pelo marido
traído, muitos homens optavam por visitar os conventos, onde o trânsito era
facilitado por um título de nobreza. Belas jovens esperavam ansiosas por um
amante que pudesse lhes ensinar os prazeres da carne, pois haviam sido
confinadas pelas famílias em ordens religiosas, contra sua vontade, como forma
de evitar a divisão de bens da família, por ocasião do pagamento do dote devido
a um futuro marido, ou para dar prestígio político a seus pais.
Rapto de mulheres, Lovis Corinth
Impedidos de participar do festim
proporcionado pelos conventos, os marujos, em Lisboa, tinham poucas
oportunidades de praticar os estupros coletivos que estavam acostumados a
infligir, a bordo dos navios, a mulheres e garotos embarcados. Não obstante, em
noites escuras, quando a lua estava oculta, as sombras lhes permitiam raptar e
violentar mulheres humildes, principalmente ciganas. Algumas chegavam a ser
carregadas à força para dentro dos navios, a fim de satisfazer o apetite sexual
da marujada. Raptadas, não tinham escolha a não ser acompanhar seus carrascos
em sua jornada pelos mares.
PESTANA, Fábio Ramos. Por
mares nunca dantes navegados: a aventura dos Descobrimentos. São
Paulo: Contexto, 2008. p. 46-48.
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