O conhecimento do mundo ocidental
sobre o continente negro sempre foi precário. Desde a Antiguidade Ocidental, a
imagem da África foi fantasiosa, sem respaldo de uma ideia sólida sobre o povo
africano. Heródoto, historiador grego do século V a.C., acreditava que os
homens nascidos ao sul do Saara tinham cabeça de cão e os olhos no peito. Com
base nos seus estudos, o romano Plínio, o Velho, no século I d.C., escreveu que
os habitantes da África Negra tinham perdido as características de seres
humanos. Ptolomeu, geógrafo grego, do século II d.C., cujos escritos serviram,
até o período do Renascimento, como fontes para os estudiosos ocidentais
descreverem geograficamente o mundo, dizia que, abaixo da região da Floresta
Tropical, era impossível existirem seres humanos. Essas terras tórridas e os
homens e os homens que lá viviam eram deformados, monstruosidades resultantes
do clima. Os gregos e os romanos tinham ideias confusas a respeito dos limites
geográficos africanos e nada sabiam das diferenças internas do continente.
Mapa do mundo de Ptolomeu, 150 d.C. Redesenhado no século XV.
O mundo cristão medieval
perpetuou essa ignorância. A Idade Média Ocidental contribuiu muito para uma
percepção especulativa sobre a desigualdade dos negros, favorecendo, assim, a
consolidação dos estereótipos populares que continuaram a contaminar a
compreensão dos europeus sobre aquelas sociedades. Somente na Europa
renascentista a visão do mundo ptolomaico foi ultrapassada, quando as grandes
viagens pelo Atlântico provaram que a África Negra não era povoada por
monstros. Apesar de não duvidar que o continente negro fosse um mundo real,
persistiram, no imaginário da Europa cristã, os mitos herdados dos tempos clássicos.
Com base nesse imaginário, criaram-se paralelos entre a cor negra, o diabo e o
pecado.
Hoje, o conhecimento do
continente africano situa-se em graus mais elevados do que há 50 anos na História
Universal. Apesar disso, permanecem grandes lacunas sobre o conhecimento de áreas
específicas do continente.
PANTOJA, Selma. Uma antiga civilização africana: história da
África Central Ocidental. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2011.
p. 17-18.
NOTA: O texto "Gregos, romanos e africanos" não representa,
necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de
refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.
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