能
O movimento artístico que se desenvolveu durante o predomínio dos Ashikaga foi fruto, sobretudo, do mecenato dos xoguns e da forte influência exercida pelos mosteiros zen na cultura japonesa da época. Além da pintura à maneira dos grandes paisagistas Song, da arte da jardinagem, dos arranjos florais e do ritual da cerimônia do chá – todos elementos fundamentais da cultura clássica japonesa – esse período destacou-se, no século XII, pelo surgimento do No, uma forma de drama lírico bastante apreciado pela aristocracia e que serviria de modelo ao teatro nacional japonês.
Nogaku zue, Kōgyo Tsukioka
Atribui-se a origem do No a primitivas formas de espetáculo,
relacionadas às danças e pantomimas que faziam parte dos ritos celebrados para
se obter boas colheitas e, também, ao repertório de fantasias inspiradas no
xintoísmo. Antes de se converter no passatempo preferido da nobreza, o No era encenado nos templos budistas,
cujos monges costumavam convidar grupos de artistas ambulantes para apresentar
espetáculos de danças e canções e, assim, atrair o público por ocasião das
grandes festas religiosas. Com o tempo, esses comediantes passaram a adaptar
seus repertórios ao gosto dos poderosos senhores que os contratavam, encenando
farsas e intrigas que, pelo ritmo, tom e intenções, assemelhavam aos autos
encenados diante das catedrais ocidentais durante a Idade Média.
No século XIV, Kanami Kujotsugu
(1332-1384), ator e autor que chefiava um desses grupos ambulantes, deu novas
características aos espetáculos tradicionais do No. Isolando o elemento cômico do dramático, escreveu uma série de
peças curtas, dotando-as de grande força poética. Seu filho, Zeami Motokujo
(1363-1443), continuou essa reforma, codificando as regras cênicas que
caracterizaram o No. Em seu manual Tradição Secreta do No (descoberto
somente em 1906), Zeami transmitia confidencialmente a seus sucessores uma “estética
teatral” repleta de reflexões muito originais sobre as relações entre o ator e
o público.
Nogaku zue, Kōgyo Tsukioka
Embora o cenário utilizado nos
espetáculos do No fosse de uma
rigorosa simplicidade, os trajes dos atores possuíam riqueza e colorido
excepcionais, com máscaras que podem ser consideradas verdadeiras obras de
arte. Os atores, todos homens, eram treinados desde a infância, quando já
aprendiam que até o mínimo gesto deveria estar carregado de significação.
Patrocinado pelos xoguns, o No passou a ter como temática, por muito
tempo, as virtudes dos cavaleiros, recebendo proteção oficial sobretudo nas
escolas de Kanze, Komparu, Hosho, Kongo e Kita, criadas para a sua preservação.
HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES. São
Paulo: Abril Cultural, 1975. p. 124 e 129. Vol. II.
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