Estudo para prisão de Tiradentes, Antônio Parreiras
O filme [produção brasileira de 1972, direção de Joaquim Pedro de Andrade] representa os acontecimentos da Inconfidência Mineira. O movimento é visto aqui através do comportamento e da narrativa dos idealizadores do movimento. Os diálogos do filme foram baseados no Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, e dos Autos da Devassa, documento oficial do inquérito sobre a Inconfidência.
Na trama, é evidenciada a força da Coroa portuguesa, a hipocrisia e a covardia dos inconfidentes. Apenas a figura de Tiradentes é preservada. De todos os patriotas engajados no movimento, Joaquim José da Silva Xavier é o que está mais disposto a levar às últimas consequências a revolução e conseguir a tão sonhada independência. Retratado como um jovem revolucionário muito ativo, Tiradentes encarna o ideal de liberdade, o ativismo político e o amor a uma causa em que se acredita. Nesse sentido, Tiradentes parece ser a síntese do movimento do qual participou. Seus companheiros, no entanto, são a síntese dos intelectuais que formulam críticas, mas não atuam. Quando traídos e presos, além de denunciarem seus próprios companheiros, negam envolvimento no levante e juram lealdade a Portugal para salvar suas vidas.
Jornada dos Mártires, Antônio Parreiras
O filme mostra, assim, a ideologia da Ilustração presente no Brasil do século XVIII. De forma pragmática e utilitarista, o tema da liberdade é central, mas, como expresso nas falas dos inconfidentes, o conceito que os inconfidentes utilizavam é restrito. Trata-se da liberdade econômica, nos moldes liberais, e não da liberdade em geral. Vale notar a opinião deles acerca da escravidão: os inconfidentes eram favoráveis à manutenção da instituição, pois não admitiam a ideia de ter de realizar o trabalho dos escravos.
Toda obra, toda produção humana é filha de seu tempo. Assim, podemos identificar no filme vários elementos da realidade social e política brasileira de 1972 (quando o filme foi feito), momento muito significativo na história do país. Desde a escolha do tema e da documentação em que se baseou, até a ênfase dada a cada personagem e seu papel na trama, todo o filme foi fortemente influenciado pelo contexto. No período da produção, o Brasil vivia sob uma ditadura militar, e muitos setores da sociedade já haviam formado grupos de resistência contra essa forma autoritária de governo.
Resposta de Tiradentes, Leopoldino de Faria
O cenário da trama é Ouro Preto, mas o filme faz claras referências ao que ocorria em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro no período militar, em particular no governo do general Médici, e à posição de alguns setores da esquerda, que lutavam desvinculados das expectativas do conjunto da população. A utilização de documentos históricos foi a forma encontrada para burlar a censura do governo militar brasileiro. A obra cinematográfica é uma alegoria por meio da qual estão representados os dois momentos históricos.
Dessa forma, Tiradentes, caracterizado como jovem revolucionário, pode simbolizar os jovens que enfrentaram a ditadura militar. Como Tiradentes, pronto para chegar às últimas consequências na luta contra a opressão metropolitana, alguns jovens no período de produção do filme estavam engajados na luta contra o regime vigente. O filme elogia a coragem desses Tiradentes contemporâneos.
Podemos ver representados neste filme também outros segmentos que constituíam a oposição ditadura no Brasil. Um segmento mais elitizado era constituído por setores da Igreja católica, por militares que não estavam no poder, por políticos alinhados com a ditadura, mas que queriam cargos mais importantes, e por intelectuais de diversas áreas.
PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza; CARVALHO, Yone de. História do mundo ocidental. São Paulo: FTD, 2005. p. 268-9.
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