"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sábado, 1 de julho de 2017

Teoria dos ciclos de civilização

Não há melhor ilustração do ciclo de vida de uma civilização do que "O curso do império", uma série de cinco pinturas de Thomas Cole que podem ser vistas na galeria da Sociedade Histórica de Nova York. Fundador da Hudson River School e um dos pioneiros da pintura paisagística novecentista nos Estados Unidos, Cole capturou lindamente uma teoria da qual a maioria das pessoas continua cativa em nossos dias: a teoria dos ciclos de civilização.

Cada uma das cinco cenas imaginadas retrata a foz de um grande rio sob um afloramento rochoso. Na primeira, "O estado selvagem", uma selva exuberante é povoada por um punhado de caçadores-coletores tratando de garantir uma subsistência primitiva em um amanhecer tempestuoso. A segunda, "O estado pastoral ou arcadiano", é de um idílio agrário; os habitantes derrubaram as árvores, cultivaram campos e construíram um elegante templo grego. A terceira e maior de todas as pinturas é "A consumação do império". Agora a paisagem é ocupada por um magnífico entreposto de mármore, ao passo que os agricultures-filósofos contentes do quadro anterior foram substituídos por uma multidão de mercadores, procônsules e cidadãos-consumidores com opulência. É meio-dia no ciclo da vida. Então vem a "Destruição". A cidade está em chamas, seus cidadãos fogem de uma horda invasora que estupra e rouba sob um sinistro céu noturno. Por fim, a lua se ergue sobre a "Desolação". Não resta uma alma viva, só umas poucas colunas em ruínas e colunatas cobertas de arbustos e heras.

Concebido em meados dos anos 1830, o pentaptoto de Cole tem uma mensagem clara: todas as civilizações, não importa quão magníficas sejam, estão condenadas a decair e ruir. A insinuação implícita era de que era melhor que a jovem república norte-americana da época de Cole se apegasse a seus princípios iniciais bucólicos e resistisse às tentações do comércio, da conquista e da colonização.

FERGUSON, Niall. Civilização: Ocidente x Oriente. São Paulo: Planeta, 2012. p. 345-6.

Galeria de imagens da obra "O curso do império", de Thomas Cole

O estado selvagem

O estado pastoral ou arcadiano

A consumação do império

Destruição

Desolação