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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Cortiços e favelas no fim do século XIX: o abrigo dos pobres

Morro de Santo Antônio, ca. 1816, Nicolas-Antoine Taunay; [Acredita-se que nesse morro tenha surgido, por volta de 1897 a primeira favela brasileira]

As casas de tijolo e alvenaria são escassas, insuficientes para abrigar boa parte da população, obrigada a habitar as favelas ou os cortiços. Dos dois o pior é a favela: um conjunto de barracos toscos construídos pelos moradores nos morros ou em terrenos abandonados e íngremes. Não há esgoto, nem água [que o mais das vezes só se encontra muito distante].


Mulata quitandeira, Antonio Ferrigno

Seus habitantes masculinos são malandros [boêmios, ladrões, valentes] ou aqueles que a idade avançada ou as doenças [como a tuberculose] incapacitaram para o trabalho. As mulheres lavam e costuram "para fora", e as crianças vendem pela cidade doces, balas e jornais. Predominam os negros, que já se reuniam em favelas antes da abolição, pois o Governo Imperial havia alforriado multidões de escravos para enviá-los à Guerra do Paraguai (1864-1870). Os que retornaram, muitos mutilados, alojaram-se nessas habitações.

Um pouco melhor é a situação dos cortiços, galpões de madeira subdivididos internamente e alugados por seu proprietário, geralmente um português dono de armazém próximo ou até um membro da aristocracia. Ainda no final do século XIX, o conde D'Eu, marido da princesa Isabel, por exemplo, era dono de um imenso cortiço, conhecido como "Cabeça de Porco", onde moravam mais de 4 mil pessoas. Os homens do cortiço quase sempre trabalham fora [serventes, carregadores, funcionários públicos humildes], salvo os adolescentes malandros e os doentes. E, durante o dia, o cortiço é das crianças, inúmeras, que povoam o pátio comum, e das mulheres, sempre às voltas com as tinas de roupa.

Nosso Século. São Paulo: Abril Cultural, 1980. Vol. 1: 1900-1910. p. 24.

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