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terça-feira, 11 de agosto de 2015

Tituba

Tituba e as crianças, Alfred Fredericks

Na América do Sul tinha sido caçada, lá na infância, e tinha sido vendida uma vez e outra e outra, e de dono em dono tinha ido parar na vila de Salem, na América do Norte.

Lá, naquele santuário puritano, a escrava Tituba servia na casa do reverendo Samuel Parris.

As filhas do reverendo a adoravam. Elas sonhavam acordadas quando Tituba contava contos de fantasmas ou lia os seus futuros numa clara de ovo. E no inverno de 1692, quando as meninas foram possuídas por Satã e se reviraram e uivavam, só Tituba conseguiu acalmá-las, e as acariciou e sussurrou contos para elas até que adormecessem em seu regaço.

Isso a condenou: era ela quem havia metido o inferno no virtuoso reino dos eleitos de Deus.

E a maga conta-contos foi atada ao cadafalso, em praça pública, e confessou.

Foi acusada de cozinhar bolos com receitas diabólicas e a açoitaram até que disse que sim.

Foi acusada de dançar nua nos festins das bruxas e a açoitaram até que disse que sim.

Foi acusada de dormir com Satanás e a açoitaram até que disse que sim.

E quando lhe disseram que suas cúmplices eram duas velhas que jamais iam à igreja, a acusada se transformou em acusadora e apontou com o dedo aquele par de endemoniadas e não foi mais açoitada.

E depois outras acusadas acusaram.

E a forca não parou de trabalhar.

GALEANO, Eduardo. Espelhos: uma história quase universal. Porto Alegre: L&PM, 2015. p. 137.

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